O principal desafio dosegundo governo do presidente Lula

 
O ponto de partida para sondar o que pode ser o segundo governo Lula deve ser o seu discurso no dia da posse. Aliás, os discursos porque, na realidade, foram dois.

“Um pensado e repensado, imagino que revisto várias vezes, escrito e reescrito, bem lido, e ótimo. No segundo, o do palavratório, de improviso, Lula disse basicamente a mesma coisa mas por meios tortuosos, numa amostra ao mesmo tempo da comunicação direta do presidente com o povo a que tinha aludido no seu discurso formal e da falta que faz um script.â€?

Luis Fernando Veríssimo, 04.01.07

No discurso feito no plenário da Câmara dos Deputados, na cerimônia de posse no segundo mandato, o presidente falou em “acelerar, crescer e incluirâ€? e anunciou um programa específico, o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Um programa que tem mais de intenção do que concretude.

“O PAC é um balão de ensaio (…) Não existe nada além de fragmentos de intenções. Há sessenta dias o governo se debate para fazer o tal do PAC e não consegue. Falta, ainda, a receita do crescimento. O que aparece são palavras de ordem — destravar o país, acabar com as amarras, etc. Não temos ainda um conjunto organizado de ações governamentais. Sequer temos um ministério.â€?

Murillo de Aragão, Blog do Noblat, 04.01.07

Aliás, não só o PAC não está montado nem o ministério está definido, como o ainda presidente entrou de férias e mandou dizer que o segundo governo só começa, mesmo, lá para o dia 15 de fevereiro, depois das eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado.
Olhado com cuidado, o PAC que, em princípio, deveria sintetizar as ações necessárias à propalada retomado do crescimento, em muito começa a se assemelhar ao programa Fome Zero, lançado com grande divulgação no início do primeiro mandato, e que até o momento não se materializou.

“Não se tinha idéia de onde buscar os recursos, de como definir quem eram os famintos, como cadastrá-los e como fazer os alimentos chegarem às devidas bocas (…) O ‘zero’ estava na moda. Vinha de ‘tolerância zero’, um programa de segurança pública em Nova York.â€?

Roberto Pompeu de Toledo, Veja, 10.01.07

Se não passar apenas de propaganda, o esforço de retomar o crescimento sustentado, absolutamente essencial para o futuro do país, por certo levará o governo Lula a sucumbir àquilo que o economista Paulo Nogueira Batista Jr. chama de “maldição do 2o. mandatoâ€? que já atingiu, entre outros, Fernando Henrique Cardoso, Carlos Menen, Alberto Fujimori e George W. Bush.

“Se não conseguir colocar a economia em movimento, o governo Lula afundará na mediocridade e sucumbirá à maldição.â€?

Paulo Nogueira Batista Jr., FSP, 07.01.07

Sem conseguir retomar o caminho do desenvolvimento, o que se pode esperar do 2o. governo em relação ao crescimento é, infelizmente, mais do mesmo pelos próximos quatro anos.