Fed baixa os juros enquanto o Brasilreforça suas expectativas de crescimento

 
Na semana passada, o Fed (Federal Reserve), o Banco Central do EUA, promoveu a primeira redução dos juros norte-americanos desde 2003. Foi um corte de 0,5 ponto percentual que reduziu a taxa básica para 4,75% ao ano após a sua permanência por 15 meses em 5,25%. A redução foi considerada ousada pelos analistas que esperavam, no máximo, uma diminuição de 0,25% e foi justificada pelo próprio Fed do seguinte modo:

“A ação de hoje pretende se antecipar a alguns dos efeitos negativos que poderiam surgir das dificuldades do mercado financeiro e garantir um crescimento moderado ao longo do tempo.”

Comitê de Política Monetária, Fed, 18.09.07

Trata-se da primeira prova de fogo do novo presidente do Fed, Ben Bernanke, substituto do lendário Alan Greenspan, e sinaliza para a preocupação com a recessão que pode vir a ser provocada pela crise imobiliária. Muita gente do mercado, depois da iniciativa, passou a considerar a hipótese de que a ameaça de recessão pode ser bem maior do que se imaginava inicialmente. O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil e hoje atuando no mercado financeiro como sócio da Gávea Investimentos, dá o tom da perplexidade dos agentes econômicos.

“Um corte de meio ponto não acontece à toa, mas o quão grave é a crise é difícil saber.”

Armínio Fraga, Folha de S. Paulo, 19.09.07

Essa dúvida tenderá a permanecer pelo menos até que sejam publicados os balanços dos bancos e apareçam contabilizados os prejuízos decorrentes dos títulos afetados pela crise das hipotecas norte-americanas.

“Apesar da grandeza, o corte de ontem pode não ser suficiente para dar um fim às turbulências. Analistas dizem que só após os próximos balanços dos bancos se conhecerá melhor os estragos da crise.”

Denyse Godoy, Folha se S. Paulo, 18.09.07

No que diz respeito aos países emergentes, em especial ao Brasil, as previsões são de que, no curto prazo, em decorrência da decisão do Fed, serão beneficiados. Se, no entanto, as coisas piorarem nos EUA, os emergentes serão inevitavelmente afetados.

“Não vejo a crise afetando de modo considerável. Emergentes como o Brasil continuam bastante atrativos. Claro que, se o tremor financeiro contaminar o lado real da economia e o consumo americanos, isso acabará afetando os mercados emergentes mais gravemente.”

Raghuram Rajan, ex-economista-chefe do FMI, 19.09.07

Por enquanto, o Brasil continua navegando em águas tranqüilas. A Bolsa voltou a subir, a pobreza caiu em 2006, o crescimento do segundo trimestre bateu recorde e as projeções do Ipea para o crescimento do PIB em 2007 foram revistas de 4,3% para 4,5%.

“É razoável concluir que, se os problemas da economia internacional não suscitarem uma crise de graves proporções, o país poderá dar continuidade ao ciclo expansivo iniciado em 2004.”

Boletim de Conjuntura do Ipea, 19.09.07