Perspectivas para o mundo em 2008: economia do EUA, preço do petróleo e BRIC


Todas as análises sobre a conjuntura internacional dão conta de que o estouro da bolha imobiliária dos EUA (ver a respeito os números 652, 653 e 655) afetará de alguma forma a economia mundial ao arrefecer o crescimento dos EUA em 2008. Na verdade, trata-se da primeira crise mundial genuinamente norte-americana.

“Pela primeira vez a crise vem de dentro dos EUA. Depois de espalhada, ninguém sabe onde vai dar.”

Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro nos EUA

Ninguém sabe onde vai dar por conta da propagação dos efeitos das hipotecas imobiliárias de segunda linha (subprimes) transformadas em derivativos (contratos firmados sobre os valores futuros de ativos de crédito) e constantes das carteiras dos bancos e instituições financeiras. Vários executivos de algumas dessas instituições já perderam os cargos e os estragos ainda não chegaram aos balanços mas vão chegar em breve. Além disso, ainda há o aumento dos preços do petróleo que teimam em rondar a casa dos US$ 100 o barril. Os dois fatores juntos podem provocar uma crise sem par.

“Lidamos com o potencial de uma colisão entre crise financeira do século XXI e um choque do petróleo ao estilo ocorrido na década de 70. Seria como se uma tempestade perfeita atingisse o mundo.”

Simon Johnson, economista-chefe do FMI

“Tempestade perfeita” é uma metáfora meteorológica para designar uma conjugação de fatores que pode levar a uma tormenta sem precedentes, onde tudo acontece em sua potência máxima. Claro que uma coisa desse tipo configura um cenário extremo mas que não pode ser desconsiderado, mesmo diante de um aspecto bastante positivo que caracteriza a atual realidade da economia mundial. Trata-se do surgimento de um novo bloco de países chamados de emergentes, cujos principais integrantes atendem pela sigla BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Esse bloco já se contrapõe à economia norte-americana e é superior a ela (pouco mais de 30% contra pouco menos de 30% da economia mundial).

“Os fundamentos das economias emergentes melhoraram muito. O próprio comércio mundial está se redesenhando em arranjos regionais, reduzindo progressivamente a dependência da economia norte-americana.”

Eduardo Guardia, ex-secretário da Fazenda SP

Os BRIC juntos, além de representarem um terço da economia mundial, representam 29% da superfície do globo e 41% da população do planeta. Devem crescer em 2007 o dobro do crescimento médio do PIB mundial. Essas dimensões os situam como a força mais dinâmica da economia global em contraponto às economias norte-americana, européia e japonesa. O futuro, com certeza, passa por eles.

“Esses quatro países são hoje, inquestionavelmente, a força mais dinâmica da economia global. Graças à emergência deles, o crescimento potencial do planeta é bem superior ao de duas décadas atrás..”

Kenneth Rogoff, ex-economista chefe do FMI

Incertezas quanto ao comportamento da economia norte-americana e subida do patamar do preço do petróleo de um lado, e, do outro, o fortalecimento das economias emergentes (que, inclusive, como é o caso do Brasil, se comportaram do ponto de vista econômico de forma bem mais consistente do que nas crises anteriores). Devem ser esses os principais fatos portadores de futuro capazes de impactar a economia mundial em 2008. Vamos ficar atentos para conferir.