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As atenções dos agentes econômicos continuam voltadas para o combate que está sendo travado pelas autoridades econômicas nos EUA contra a crise porque eles sabem que, enquanto o problema não for equacionado por lá, ela continuará sem perspectiva de resolução pelo resto do mundo. Uma pergunta para a qual todos procuram uma resposta é: quando chegará o fundo do poço e quando começará a recuperação? Na semana passada, foi anunciado mais um pacote de US$ 1 trilhão para extração dos “ativos tóxicos” dos bancos e vários analistas ao redor do mundo já começam a falar que estão vendo alguma “luz no fim do túnel”. Já outros são mais pessimistas.

“Estamos no começo do fim do problema bancário mas ainda no fim do começo da crise como um todo.”

Eric Maskin, economista, Nobel de 2007, Veja 01.04.09

É justificada essa preocupação com o fundo do poço porque, só assim, se pode começar a vislumbrar com menos incerteza a etapa de recuperação. Sobre esse momento os economistas começam a falar em letras (“V”, “U” e “L”) como metáfora para os gráficos de evolução do PIB.

“Nós estamos vivendo uma coisa parecida com 2001, no estouro da bolha da internet, que foi a menor recessão dos EUA. Foi [em forma de] um ‘V’. A coisa caiu, teve uma certa vertigem e depois voltou. No limite do pessimismo, vem o ‘L’. Cai e se arrasta, como na depressão de 1929 e na recessão do Japão nos anos 90. O cenário intermediário é um ‘U’, que não é tão simples como foi em 2001, mas não é tão crônico como o ‘L’.”

Eduardo Giannetti da Fonseca, FSP, 29.09.08

Dentre os economistas, vale a pena prestar atenção no mais polêmico deles, Nouriel Roubini, natural da Turquia e radicado nos EUA, professor da Universidade de Nova York, que tem feito as previsões mais radicais sobre a crise e tem acertado muitas delas.

“Nouriel Roubini voltou a atacar ontem no seu blog, partindo dos dados do PIB do quarto trimestre dos EUA e outros para anunciar que a ‘esperança ilusória’ de uma recessão em ‘V’ ficou para trás, trocada pela já existente recessão em ‘U’. E o risco agora é de uma ‘estag-deflação’ em ‘L’, como no Japão.”

Nelson de Sá, Folha de S. Paulo, 20.02.09

Na esteira da lógica de explicação “alfabética”, além dessas, uma outra letra lembrada por outro economista é o “W”.

“O movimento de recuperação da crise talvez não seja nem em ‘V’, nem em ‘U’, nem em ‘L’ mas, sim, em ‘W’, com retomadas e quedas até a estabilização.”

Sérgio C. Buarque, economista pernambucano, 27.03.09

Seja que padrão de letra tomar o formato da recuperação, o que parece certo é que o fundo do poço (a parte de baixo da letra) ainda não foi atingido e, se foi, a coisa ainda é tão recente que não deu para perceber com clareza. O que parece certo é que a recuperação será lenta e gradual.

“A história nos ensina que, depois de voltarem a andar com as próprias pernas, os bancos ainda levarão em torno de um ano para oferecer crédito na praça.”

Barry Eichengreen, professor de Berkeley, Veja, 27.03.09