O 2º. turno é uma chance efetiva de discutir questões relevantes do país

Ausentes das campanhas e dos debates eleitorais do primeiro turno, as questões relevantes do Brasil têm agora uma segunda chance de serem discutidas de forma minimamente consequente
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O desempenho de Marina Silva (19,3%) no primeiro turno levou José Serra (32,6%) para o segundo turno contra Dilma Rousseff (46,9%), surpreendendo os principais institutos de pesquisa do país (Ibope, Vox Populi e Sensus), exceto a Datafolha que, já há mais de uma semana, identificava a queda da candidata do PT, depois que surgiu na imprensa o escândalo da Casa Civil. Um aspecto muito positivo do segundo turno é que haverá mais uma chance para que os candidatos discutam os principais e mais angustiantes do país, bem como as soluções para eles, algo completamente esquecido no primeiro turno e substituído por uma espécie de simulação midiática pautada pelas pesquisas eleitorais.

“A escassez de emoções e idéias que marcou a campanha presidencial brasileira de 2010 teve ainda um outro efeito deletério: contribuiu para que vicejasse a percepção de que um candidato era forte e capaz, ou fraco e incapaz, a depender de seu desempenho nas sondagens eleitorais.”

Fábio Portela, Veja, 06.10.10
Quando isso acontece, se o marketing não tiver tomado ainda o comando absoluto da campanha, é uma evidência de que tomará. Com isso, os verdadeiros candidatos saem de cena e entram os personagens construídos pelos marketeiros. Quem perde é o país e o eleitor que passa a ver uma simulação em vez de ter uma oportunidade privilegiada de ver discutidas as grandes questões nacionais.

“As campanhas políticas ficaram reféns de duas categorias: as pesquisas de opinião e os marqueteiros. Elas diziam que o eleitor queria continuidade, e eles passaram a oferecer continuidade aos eleitores… O confronto se deu, então, entre a ‘Continuidade de Exaltação’ e a ‘Continuidade de Superação’. Dilma elevou às alturas as conquistas que seriam obra exclusiva de Lula, e Serra afirmou que é possível avançar num ritmo mais acelerado.”

Blog do Reinaldo Azevedo
Questões prementes como a lembrada pelo jornalista e articulista da Folha de S. Paulo, Clóvis Rossi, no próprio dia da eleição, passaram completamente ao largo da campanha.

“O Brasil que vai às urnas é um país pobre, obscenamente pobre para o seu volume de riquezas naturais, território e população. É também profundamente desigual, apesar da lenda de que a desigualdade se reduziu. É impossível reduzir a desigualdade em um país que dedica ao Bolsa Família (12,6 milhões de famílias) apenas R$ 13,1 bilhões e, para os portadores de títulos da dívida pública (o andar de cima) a fortuna de R$ 380 milhões, ou 36% do Orçamento 2009.”

Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 03.10.10
Afinal, apesar dos importantes avanços alcançados pelo país nos últimos 16 anos, ainda há muita coisa a ser feita pelos próximos presidentes brasileiros.

“A compreensão de que o país está apenas a meio caminho do desenvolvimento é o primeiro – e o mais importante – passo para que o sucessor de Lula seja bem sucedido.”

Revista Exame, 06.10.10
E nenhum momento melhor para discutir isso do que no segundo turno de uma campanha presidencial, já que no primeiro ficou-se na generalidade. Depois de consolidadas no primeiro turno as vitórias de Aécio Neves (que fez barba, cabelo e bigode em Minas) e de Eduardo Campos em Pernambuco (82,84% dos votos, a maior proporcional do Brasil, elegendo dois senadores), vamos ver se a democracia avança mais com a realização de um grande e relevante debate sobre o futuro do país.