Farol Baixo e Farol Alto no Recife

por Francisco Cunha, sócio da TGI Consultoria em Gestão
O segredo é aprender a usar os dois juntos, quase ao mesmo tempo.
Trinta anos de dedicação cotidiana ao planejamento estratégico me deixaram absolutamente convencido de que, tanto indivíduos quanto organizações de todos os tipos e tamanhos (microempresas, empresas pequenas e médias, multinacionais, cidades, estados, regiões, países…), não podem deixar de trabalhar no dia-a-dia com dois tipos de planejamento, simultaneamente: (1) de curto prazo (de um a cinco anos); e (2) de longo prazo (acima de 10 ou 15 anos).
Mal comparando, seria como se fossem um automóvel numa viagem noturna: precisam do farol baixo e do farol alto, juntos, para minimizar o risco de acidentes durante o percurso. Quem já dirigiu à noite numa estrada sabe muito bem o que é isso: se só usar o farol baixo, livra-se dos buracos próximos mas corre o risco de bater na vaca atravessando a pista lá na frente porque não a viu a tempo de desviar; por outro lado, se só usar o farol alto, livra-se da vaca mas cai no buraco. E um dos dois, vaca ou buraco, se não evitados a tempo, podem transformar uma simples viagem uma tragédia enorme. O segredo é aprender a usar os dois juntos, quase ao mesmo tempo.
Com os indivíduos, organizações e sistemas, inclusive cidades, funciona de forma semelhante: o farol baixo seria o planejamento de curto prazo (geralmente limitado ao horizonte de uma administração); o farol alto seria o planejamento de longo prazo (que deve abranger um horizonte de pelo menos quatro a cinco administrações pra frente).
No Recife, nas últimas décadas, quando muito, se conseguiu usar apenas o farol baixo e, mesmo assim, não escapando de cair numa quantidade infinita de buracos.. Farol alto, planejamento de longo prazo, de nenhuma espécie. O quê e como o Recife quer ser nas próximas décadas? Quer competir com que cidades globais em termos de atração de capital financeiro e humano? Que objetivos e metas econômicas, sociais, ambientais, culturais e espaciais devem ser estabelecidas e perseguidas dentro de um determinado horizonte de tempo pela cidade? Quais estratégias devem ser adotadas para alcançar as metas? Qual o esquema organizacional para execução e controle dessas estratégias? São perguntas indispensáveis de serem feitas e respondidas para um dia virmos a ser uma cidade sustentável.
O problema é esse: não termos respondido as perguntas essenciais para o futuro da cidade, inclusive para guiar o curto prazo. A oportunidade: a Prefeitura do Recife ter lançado o projeto Recife 500 Anos para construir um planejamento de longo prazo para quando a cidade completar cinco séculos em 2037. Visando a contribuir com esse debate fundamental, a TGI Consultoria, o Observatório do Recife e a Algomais, lançaram o suplemento especial que acompanha este número da revista. Uma “provocação” para essa discussão fundamental. Sugestão: leia e opine. A cidade precisa muito disso.
*Artigo publicado na edição 89 da revista Algomais (www.revistaalgomais.com.br).