POR UMA LINHA DO TEMPO PARA O RECIFE

por Francisco Cunha, sócio da TGI Consultoria em Gestão
Pelo que sei, também o assunto não é objeto de ensino sistemático nas escolas da cidade, públicas ou privadas.
No dia anterior ao meu aniversário, ganhei um presente e tanto: a inauguração do Paço do Frevo na Praça do Arsenal, Bairro do Recife. Uma beleza! Finalmente o Frevo, Patrimônio Imaterial da Humanidade, ganha um equipamento à sua altura no coração da cidade que o gestou e lhe serviu de berço há mais de 107 anos quando a palavra apareceu pela primeira vez escrita num jornal recifense. Recomendo de modo efusivo a visita, mais de uma vez até! Eu já fui duas e vou mais.
De todas as coisas boas que tem no Paço, uma me chamou particular atenção pelo contraste com a cidade do Recife: a linha do tempo do Frevo, ano a ano, desde 1900, até os dias atuais e, ainda, um livrão que relaciona os fatos marcantes da história do Estado e da capital, da colonização até 1900. Nela descobri, por exemplo, que no ano em que nasci, 1957, foi criada a troça “Formiga Sabe que Roça Come”, fato com o qual me senti muito identificado…
Essa linha do tempo reforçou o alerta para uma coisa que já tinha me intrigado antes: o Recife, diferente de qualquer cidade que se considere civilizada no mundo, não tem exposta à visitação pública uma linha do tempo. Quem quiser saber, seja turista, seja habitante, de forma sistematizada e didática, qual o percurso histórico da cidade, desde a sua fundação ao tempos atuais, “vai ter que penar um bom bocado” como naquele velho samba de Martinho da Vila…
Aliás, no particular do conhecimento da sua história (uma das mais impressionantes do País!), a cidade do Recife deixa quase tudo a desejar. Além da inacreditável ausência de uma linha do tempo, são raríssimas as obras que tratam
do tema com exclusividade, de cabo a rabo (só conheço dois livros dedicados inteiramente e de forma sequencial e didática à história do Recife).
Pelo que sei, também o assunto não é objeto de ensino sistemático nas escolas da cidade, públicas ou privadas. Eu mesmo, apesar de ter estudado numa escola de referência (Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco)
e de ter tido o privilégio de ter aulas de história e geografia com o extraordinário professor Rubem Franca, tive que fazer uma posterior e penosa pesquisa para me inteirar da história da cidade.
Termino essas considerações com um apelo às autoridades da cultura e da educação do Recife: providenciem uma linha do tempo impecável para nossa capital (minha sugestão é que seja no Museu da Cidade no Forte das Cinco Pontas) e instituam o ensino obrigatório da história da cidade nos currículos municipais. O Paço do Frevo está aí para dar o bom exemplo.
*Artigo publicado na edição 96 da revista Algomais (www.revistaalgomais.com.br).