Recursos Humanos e Departamento Pessoal: por que é essencial separar?

Sobretudo em épocas de recessão econômica, muitos profissionais passam a acumular cargos de áreas consideradas afins dentro de uma empresa. No entanto, essa pode não ser a melhor saída, principalmente quando os setores têm demandas específicas e o gestor tem competência para apenas uma delas. Um caso comum dessa junção que pode não dar certo é a dos setores de Recursos Humanos e Departamento Pessoal.
Antes de tudo, é importante entender as diferenças das duas áreas e porque é essencial que sua gestão tenha lideranças diferentes. Embora a área de Recursos Humanos – RH seja oriunda do Departamento Pessoal – DP e tenham responsabilidades complementares, suas atividades são bem distintas. O DP, de um modo geral, lida com a burocracia e as exigências das leis trabalhistas, são questões mais objetivas (como folha de pagamento, processos de admissão e demissão, registro de ponto, envio de informações legais, etc). O RH, por outro lado, veio para tratar do desenvolvimento das pessoas de forma mais subjetiva, das questões mais humanas, como a relação dos empregados com a empresa.
É na sutileza dessas diferenças que reside o sucesso do bom funcionamento de ambas. Se no começo elas funcionavam juntas, hoje se recomenda que trabalhem separadas. Porém, muitas empresas insistem em unir os dois setores e colocá-los sob a liderança de um único profissional, quando as áreas demandam competências bem distintas, quase impossível de encontrar numa única pessoa. A experiência mostra que quando isso acontece, ou RH ou DP fica num segundo plano, mas não por estratégia da empresa e sim, por conta do perfil do líder.
O profissional de DP tem um modelo de raciocínio mais lógico, lida com as questões de forma objetiva e cartesiana. Quando assume o RH, esse profissional sofre bastante para lidar com as questões relacionadas com gente, que exige uma lógica de pensar completamente diferente do modelo mental que acredita e se identifica. A tendência será focar mais no que gosta, no que faz bem e tem sua competência reconhecida.
Caso não haja possibilidade financeira e estrutural de ter lideranças diferentes para o RH e DP, recomenda-se que o gerente tenha na sua equipe um profissional com experiência e conhecimento para responder pela área que tem menos domínio. Neste caso, o arranjo é mais bem sucedido quando o gestor tem maior aptidão para área de RH e conta com a ajuda de um profissional-chave para cuidar das questões do DP, que supra as exigências por um olhar mais lógico e cartesiano para lidar com atividades da área.
Se a empresa resolver seguir por esse caminho, é importante, para que o processo dê certo, que o gerente das áreas de RH e DP conceda a autonomia necessária para que seu profissional-chave use suas competências nas demandas do dia a dia, sem esquecer que a responsabilidade pelos dois setores, no fim das contas, continua sendo dele. Portanto, é essencial acompanhar e se envolver nas questões críticas.
Georgina Santos
Sócia da TGI Consultoria em Gestão
*Artigo publicado no caderno Opinião da Folha de Pernambuco no dia 20.05.2016