Complexidade da razãoe simplicidade da vontade

 

“Não há inteligência fora do pessimismo, e não há vitalidade fora do otimismo, o que é tão bem sintetizado na fórmula: pessimismo da razão e otimismo da vontade.”

André Lara Rezende, economista brasileiro

A fórmula citada por André Lara Rezende para o pessimismo e o otimismo se aplica muito bem, adaptada, para a complexidade e a simplicidade.
Uma característica indissociável da realidade é a complexidade, por mais que isso possa parecer o contrário ou ser incômodo para os que se dizem objetivos, diretos, claros etc. A frase do prêmio Nobel de 1976, Milton Friedman, sobre a teoria monetária (uma pequena parte da realidade econômica), ajuda a ilustrar.

“A teoria monetária é exatamente como um jardim japonês: aparente simplicidade escondendo enorme complexidade.”

Milton Friedman, economista norte-americano

Por mais simples que pareça, a realidade (qualquer realidade, inclusive a realidade organizacional), esconde uma complexidade que não se pode reduzir a uma interpretação simples sem perda da sua substância principal.
Conta-se que, certa vez, o físico e escritor argentino Ernesto Sábato (autor da obra-prima “O Túnel”) recebeu a solicitação de um aluno para explicar, de forma compreensível, a Teoria da Relatividade. Após a explicação, Sábato perguntou se o aluno tinha entendido. Resposta: “não, só entendi alguma coisa naquela parte do caminhão”. Sábato, então, esmerou-se em dar novamente a explicação, ampliando o exemplo do caminhão. O aluno: “entendi mais um pouco”. Sábato, então, radicaliza o exemplo e dá toda a explicação baseada em caminhões. O aluno: “entendi tudo”. Sábato: “é, mas sinto dizer que isso que você entendeu não tem nada a ver com a Teoria da Relatividade”. A simplificação tinha descaracterizado a essência da teoria.

“Deve-se tornar o problema o mais simples possível, mas não mais simples que o possível.”

Albert Einstein, 1879-1955, cientista

O dilema surge quando a compreensão da realidade complexa tem que se transformar em ação organizacional, em instrumento de gestão. Não existe gestão sem objetividade e, portanto, sem uma boa dose de simplicidade.
Aí, entra a necessidade de tratar de um outro conceito associado que é o da complicação. Pode-se dizer que a complicação é incapacidade de transformar a complexidade da realidade em práticas objetivas de gestão. Geralmente, quando não se sabe o que fazer, complica-se.

“Levar uma vida complicada é uma ótima maneira de evitar mudanças.”

Elaine St. James, escritora norte-americana

Certamente não é uma coisa fácil de fazer: compreender a realidade complexa, tomando medidas simples, sem complicações mas, também, sem falsas simplificações (simplismos).
Não é fácil, mas é algo que tem que ser continuamente buscado pelo gerente que se pretende eficaz. Uma boa maneira de praticar é evitar cair na tentação de encontrar soluções boas para problemas errados (ver número 274, “Qual é Mesmo o Problema?”), por excesso de simplificação do diagnóstico das causas.