O pó branco, o envelope e ocolapso da civilização ocidental

 
Quem quer que tenha arquitetado esses atentados por carta com pó branco, conseguiu êxito absoluto. Com recursos, ao que tudo indica,  mais do que modestos, espalhou o pânico em meio a milhões de pessoas pelo mundo afora.
O espantosamente eficaz é que a iniciativa inicial de mandar umas poucas cartas, de fato, contaminadas com o Bacillus anthacis, foi seguida de uma verdadeira enxurrada de outras contendo apenas talco mas que produzem, em termos do objetivo principal de disseminar o pânico, o mesmo efeito das contaminadas.
De uma hora para outra, toda uma poderosa rede de malucos e patologias de todos os tipos foi articulada pela simples visão da possibilidade de, apenas com uma lata de talco e alguns envelopes, disparar torpedos postais para qualquer desafeto pessoal ou ideológico. Um fenômeno da mesma natureza daquele proporcionado pelos filmes norte-americanos aos terroristas que derrubaram as torres em Nova York, como bem destaca o cineasta Robert Altman em frase na última revista Veja:

“Ninguém teria pensado em cometer uma atrocidade dessas sem ter visto antes coisa parecida no cinema.”

Robert Altman, cineasta norte-americano

Essa, aliás, é uma das contradições profundas do que estamos presenciando: as armas que estão sendo usadas pelo terrorismo para atacar (de dentro ou de fora dos EUA) estão disponíveis à vontade. Aviões comerciais, bactérias, correio e, sobretudo, os próprios meios de comunicação, são acessíveis por quem tem inteligência suficiente (coisa que não tem faltado aos atacantes) para manipulá-los.
Os meios de comunicação, inclusive, têm dado um show, como é do seu feitio nessas horas, de desinformação (inclusive com o instituto da censura prévia auto-imposta nos EUA) e sensacionalismo. Não foi por acaso que as primeiras cartas foram para a imprensa e para as principais TVs dos EUA.

“… a imprensa … acaba gerando medos inversamente proporcionais aos perigos reais.”

Aaron Cohl, advogado californiano

Quem quer que esteja por trás dessa loucura toda está se mostrando especialista em comunicação de massas e tem usado com maestria os meios de comunicação a seu favor. Aliás, não parece demais dizer que essa é, antes de qualquer coisa, uma guerra pela comunicação, com o terrorismo, por enquanto, levando vantagem por uma razão simples: está tendo o poder da iniciativa, de surpreender o oponente.
De fato, como dizem os especialistas em guerra biológica, matar não é o primeiro objetivo desse tipo de ataque mas, sim, espalhar o pânico, o que se está conseguindo muito bem.
Claro que os perigos reais existem e não são poucos. As autoridades norte-americanas parecem estar bastante preocupadas com a possibilidade de um ataque bioterrorista em massa com um agente patogênico capaz de produzir uma epidemia (o antraz, ou anthrax, como quer a revista Veja, não é contagioso) como, por exemplo, o vírus da varíola, erradicado desde a década de 70. Um terrorista suicida contaminado com o vírus, antes de morrer, causaria um estrago grande.
Todavia, em nada ajuda o pânico gerado pela desinformação ou pelo sensacionalismo. É preciso muito cuidado com o que se vê, se ouve e se lê. A frase provocativa ajuda a refletir:

“Certos jornais ainda são incapazes de discernir entre uma briga de bar e o colapso da civilização.”

George Bernard Shaw, 1856-1950, escritor inglês

Estamos passando por uma fase difícil, sem dúvida, com modificações muito profundas se desenhando no cenário internacional, mas ainda parece um pouco longe o colapso da civilização ocidental…