Que a janela de 2004 mantenha-seaberta até a "sustentação" do crescimento


Não há nenhuma dúvida de que uma janela de oportunidade para o crescimento econômico se abrirá em 2004. Dez entre dez analistas, dos mais sérios aos sempre presentes palpiteiros, confirmam isso. Mesmo porque, a base de comparação (2003) é muito fraca. As últimas previsões falam em crescimento de 0,2%. Ou seja, zero ou, até mesmo com um pouco de azar, negativo.
A grande dúvida de todos é se essa retomada será duradoura ou não. Uma parte acha que sim, outra, ao que parece maior, acha que não. Os que acham que sim falam de uma conjugação inédita de condições favoráveis, não vista há, pelo menos, uma década (inflação controlada, dívida pública estabilizada, juros declinantes, câmbio comportado, governo policamente estável, economia mundial em crescimento, risco país em patamares mínimos). Os desconfiados, desfiam seus argumentos contrários (superávit primário excessivamente elevado, juros reais ainda muito altos, baixo nível da poupança interna e escassez da externa, renda deprimida, carga tributária elevada e de má qualidade, infra-estrutura sucateada, alta vulnerabilidade externa, risco acentuado de uma escalada altista dos juros internacionais).
A mera observação, inclusive, desse embate entre crédulos e incrédulos no crescimento sustentado, quando observamos os argumentos dos crédulos, faz lembrar o grande escritor argentino Luiz Borges:
“Somos todos, sim, a favor do desenvolvimento. Desde que possamos obtê-lo sem sofrimento.”
Jorge Luiz Borges, 1899-1986, escritor argentino
Isso porque é obvio que a retomada do desenvolvimento, impulsionado pelo crescimento sustentado, não se fará, depois de mais de duas décadas, sem uma dose considerável de esforço.
Um esforço, inclusive, que reconhecidamente não será pequeno, nem de fôlego curto, como atestam economistas de todas as tendências.
“O desenvolvimento econômico e social não se improvisa e não tem atalhos. É trabalho de duas ou mais gerações.”
Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia de 2000
Sobretudo no Brasil que há tanto tempo não sabe o que é crescimento econômico consistente e, por conta disso, com o agravo da elevada inflação crônica de mais de uma década, teve suas condições sociais significativamente deterioradas a ponto de, hoje, figurar na triste lista dos países mais socialmente injustos do mundo.
Uma condição, inclusive, que contribui decisivamente para minar a confiança de muitos, levando-os a duvidar da capacidade do país retomar o crescimento sustentado, dada a instabilidade social que paira como uma sombra negra sobre o nosso futuro. Uma sombra que, aliás, só se dissipará se o crescimento sustentado for retomado, não obstante todos os esforços, a boa vontade e as políticas compensatórias, tipo Fome Zero e equivalentes, que os governos se propuserem a colocar em prática.
“Assim como a estabilidade de preços é o melhor programa social, a recuperação dos investimentos e do crescimento econômico cria empregos e reduz a pobreza como nenhum outro programa de gastos do governo seria capaz.”
André Lara Resende, economista brasileiro
Façamos votos, pois, que a janela de crescimento aberta em 2004 não se feche tão cedo.
 
Desenvolvimento e Paz em 2004
A TGI aproveita a oportunidade do primeiro número do Gestão Hoje de 2004 para desejar aos clientes, amigos e leitores um ano novo repleto de paz e realizações profissionais e pessoais. E que essas realizações se dêem em meio à retomada do tão almejado crescimento sustentado do país, sem o qual, o objetivo de paz dificilmente se concretizará.

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