Baixo crescimento do Brasil pode seagravar num cenário mundial menos favorável

 
Dois fatos econômicos manifestados na semana passada merecem ser comentados em razão de sua importância para o cenário de negócios: (1) divulgação do crescimento do PIB brasileiro em 2006 (2,9%); e (2) queda da bolsa de Xangai (8,8%). Em relação ao PIB, o que chama a atenção não é, propriamente, o percentual mas o fato de que o Brasil deveria estar crescendo muito mais.

“Crescimento de 2,4%, 2,7% ou 2,9%, isso não importa. O que realmente importa é que o Brasil poderia estar crescendo o dobro disto.”

José Alexandre Scheinkman, economista brasileiro

O comentário de Scheinkman, professor da Universidade de Princeton (EUA), nos induz a observar o que acontece pelo mundo. O crescimento global em 2006 deve ter girado em torno de 5%, mantendo a tendência de alta verificada nos últimos quatro anos, puxada pela China (10% ao ano) e pela Índia (8,3% ao ano). Na América Latina, o crescimento médio foi de 4,9%. Na América Latina, inclusive, o índice de crescimento do Brasil só foi superior ao do Haiti.

“Os pífios 2,9% servem, no máximo, para lançar o Brasil à frente do Haiti na corrida do desenvolvimento na América Latina. Sim , derrotamos o Haiti, aquele país caribenho destroçado por uma guerra civil. E só. (…) líder da lista, a Argentina cravou desempenho de 8%.”

Revista Dinheiro, 07.03.07

O mais grave do baixo crescimento relativo brasileiro é que, com o desempenho mundial recorde dos últimos anos, o país está perdendo uma janela de oportunidade grande. Entre os colegas emergentes, o índice do Brasil ocupa a lanterna. E se essa situação já é preocupante, o que dizer de uma mudança do cenário mundial?

“Na terça-feira passada [27.03.07], a Bolsa de Xangai, o principal mercado chinês, desabou 8,8%, a maior queda em uma década.”

Revista Veja, 07.03.07

No rastro da queda da Bolsa de Xangai, os outros mercados foram atrás. Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 3,24% e na bolsa eletrônica Nasdaq a queda foi de 3,86%. Na Europa as quedas foram em torno de 3%. Na América Latina, a Argentina caiu 7,5% e o México 5,8%. No Brasil, foram interrompidos vários anos de recordes.

“O índice que mede as ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, despencou 6,6%, no maior revés dos últimos cinco anos e meio. Foi como se mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado das empresas fossem embora pelo ralo num único dia.”

Revista IstoÉ, 07.03.07

Por aí se tem uma mostra do que pode acontecer com a economia nacional num quadro recessivo mundial. E, pela lógica do capitalismo, os períodos de baixa sucedem os de alta, conforme bem destaca o já lendário ex-presidente do Fed-Federal Reserve (banco central norte-americano).

“Quando nos distanciamos tanto de uma recessão, invariavelmente algumas forças começam a se acumular para a próxima recessão, e de fato estamos começando a ver sinais disto.”

Alan Greenspan, ex-presidente do Fed

O atual modelo de crescimento mundial ancorado na simbiose China/EUA (ver a propósito o GH/618) tem limites e não pode ir se expandindo indefinidamente. Em algum momento, o ajuste virá. É possível que o soluço que começou em Xangai tenha sido um aviso. Se foi, talvez não haja mais tempo de o Brasil ainda se beneficiar do bom momento da economia mundial. Infelizmente.