Sem crescimento econômico não hásaída para o país nem para o governo

 
Recentemente o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou o IDH (�ndice de Desenvolvimento Humano) de 2003, com uma boa notícia: o Brasil subiu da posição 69 para a posição 65 no ranking de 175 países. Os progressos brasileiros deveram-se a melhorias na educação, na expectativa de vida e na igualdade entre os sexos.

“O Brasil foi o país que mais avançou no ranking do Desenvolvimento Humano, desde quando o índice que tenta medir a qualidade de vida no planeta começou a ser aferido em 1975. Até 2001, base da lista divulgada em 2003, o país saltou 16 posições.”

José Paulo Kupfer, revista Forbes Brasil, 18.07.2003

Apesar desses avanços, todavia, o país ainda ficou muito a dever em termos de renda per capita e distribuição de renda: 10% da população ainda vive com menos de US$ 1 por dia (cerca de R$ 90,00 por mês) e o Brasil é o país onde há a quinta pior distribuição de renda do mundo, ficando atrás, apenas, da Naníbia, de Botsuana, da República Centro-Africana e da Suazilândia. Diante dessa situação, o representante do Pnud no Brasil fez a seguinte comparação:

“Em termos aproximados, há uma Moçambique dentro do Brasil, com os mesmos índices de IDH e de indigência.”

Carlos Lopes, Folha de S. Paulo, 09.07.2003

Ao se considerar que o indicador geral do IDH do Brasil é 0,777, enquanto o de Moçambique (número 170 da lista) é 0,356, tem-se uma idéia aproximada da disparidade que está entranhada na nossa sociedade.
É, justamente, nesse ponto que a coisa se complica, e muito, porque não há como mudar essa realidade, por mais bem intencionado e socialmente responsável que seja o governo, sem crescimento econômico sustentado ao longo, pelo menos, de uma década inteira. E há, pelo menos, duas décadas que o país não sabe o que é crescimento sustentado.Todos os governos passados foram incompetentes nesse objetivo. E o atual, se não tomar muito cuidado, pode trilhar o mesmo caminho. Menos, agora no início, por sua própria responsabilidade e mais por conta da crise recebida de herança. Todavia, primeiro os eleitores e, depois, a História não vão querer saber as razões, vão só registrar que o governo Lula falhou, também, se o país não voltar a crescer.
Para que haja verdadeiro desenvolvimento humano, há que haver, também, desenvolvimento econômico. Ou seja, incorporação de consumidores ao mercado.

“Poderíamos ter 100 milhões de pessoas no consumo de massa, mas só temos metade disso.”

Horácio Piva, presidente da Fiesp, Veja, 03.04.2002

Hoje, um objetivo como este, uma verdadeira meta de desenvolvimento humano, porque econômico e conseqüente, está muito distante. Só do ano passado para cá, por conta da escalada inflacionária sem reposição de perdas, houve uma queda do poder aquisitivo da ordem de 15%. Uma enormidade que faz as vendas despencarem, a produção industrial cair, o desemprego bater recordes históricos e a recessão se instalar.
Hoje, já são os economistas simpatizantes do PT que começam a alertar para o risco que o governo Lula passa a correr, daqui para a frente, como fez Paulo Nogueira Batista Jr., na Folha de S. Paulo, a semana passada:

“Se a recuperação da economia demorar ou vier fraca, como no governo FHC, bye-bye PT .”

Paulo Nogueira Batista Jr., 24.07.2003

Depois que a situação de crise se acalmou um pouco, a cobrança de todos ao governo é: crescimento já. Sob pena de a situação social sair do controle.