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Conforme referido no Gestão Hoje 731, a maior dificuldade que as autoridades econômicas e monetárias ao redor do mundo estão tendo para enfrentar a crise que assola a economia mundial é derivada do fato de não ser ela decorrente apenas do estouro de uma bolha mas do colapso de um modelo econômico que já tem quase quatro décadas. Esse foi um período que terminou se caracterizando, em especial nos últimos anos, pela “financeirização” da economia. Foi esse modelo que colapsou, arrastando com ele boa parte do setor bancário mundial.

“O período de financeirização, que ora se encerra, era fundado na defesa intransigente do corte de benefícios sociais, na redução de impostos para os mais ricos, na suposição de que esses recursos ajudariam a aumentar investimentos e empregos, resultando em benefícios para todos. Essa utopia terminou em uma crise que, provavelmente, será mais aguda que a de 1929. Repete-se o mesmo ciclo do período rooseveltiano, em que a política retoma o poder das mãos das finanças e promove um reencontro com as aspirações do cidadão comum.”

Luis Nassif, www.luisnassif.com.br, 27.02.09

Trata-se, agora, com muito pouca sombra de dúvida, do fim de uma era que remonta ao início do governo Ronald Reagan nos EUA e que ajudou a promover o grande consumismo norte-americano.

“Os anos de economia global ancorada no consumo americano chegaram ao fim. A era de ouro do capitalismo financeiro chegou ao fim. Em termos ainda mais gerais, o período de tremenda prosperidade dos Estados Unidos iniciados nos anos Reagan virtualmente terminou.”

Alex Teixeira, revista Época Negócios, novembro 2008

Portanto, trata-se, como virou moda dizer na chamada linguagem corporativa, de uma “mudança de paradigma” econômico. Uma situação para a qual a precisa descrição de Gramsci cai como uma luva.

“A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo não consegue nascer; nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem.”

Antonio Gramsci, 1891-1937, cientista político italiano

Não se trata, como alguns apressados passaram a declarar, do “fim do capitalismo”. Ele ainda tem muito fôlego. Para usar uma linguagem também da moda, pode-se dizer que é o fim da chamada “era neoliberal”. Por isso, por sua amplitude “conceitual”, a crise foi, na prática, subestimada até que explodiu, de fato, jogando cacos do sistema financeiro para tudo quanto foi lado.

“Essa crise foi subestimada. (…) O fato de não ter sido antecipada, ter sido subestimada, ter sido descartada como uma pequena correção de preços dos ativos, um mero ajuste, que não deveria durar mais do que um ou dois trimestres, fez com que as medidas para enfrentá-la estivessem sempre atrasadas. Muito pouco, muito tarde.”

André Lara Resende, Jornal Valor, 09.01.09

A esperança é que, depois da estupefação inicial, as medidas geradas (ver GH/723) e a capacidade política sejam suficientes para colocar o vagão econômico em novos trilhos.