A simbiose da China com os EUAe a oportunidade perdida pelo Brasil

  A economia mundial vive nos últimos quatro anos um dos seus melhores momentos em termos de crescimento desde a Segunda Guerra Mundial. Mais precisamente o melhor momento desde o choque do petróleo em meados da década de 1970. Desde 2003 que a economia mundial cresce a taxas superiores a 4% ao ano (4,1% em 2003; 5,3% em 2004; 4,8% em 2005; e cerca de 5,1% em 2006). Todavia, segundo previsões do FMI (Fundo Monetário Internacional), esse ritmo deve arrefecer a partir de 2007.

“Depois do melhor período de bonança e crescimento das últimas três décadas, a economia mundial, com os EUA à frente, deve começar a desacelerar para um ritmo mais moderado a partir do próximo ano.”

Folha de S. Paulo, 05.09.06

Chama a atenção nesse quadro de crescimento, a extraordinária performance econômica da China que cresce a taxas próximas a 10% ao ano há mais de 25 anos seguidos.

“A China não pára: é, de longe, o país que mais cresceu desde 1980. Uma média de 9,6% por ano neste quarto de século. Significa dizer, por exemplo, que nos últimos três anos acrescentou quase um Brasil inteiro ao seu PIB.”

Lauro Jardim, revista Veja, 09.08.06

O fenômeno chinês é, de fato, impressionante. Com mais de 1/5 da população mundial, a China é o país de maior população da Terra com 1,3 bilhões de habitantes. República popular proclamada em 1949 por Mao Tsé-Tung, passou por uma reforma conduzida por Deng Xiaoping em 1978 que criou uma economia de mercado capitalista dentro de um sistema político socialista.

“Desde o milagre de Deng, saíram da pobreza cerca de 400 milhões de pessoas, a maior massa humana a ascender de patamar, em menos tempo, em toda a história da humanidade.”

Vilma Gryzinski, revista Veja, 09.08.06

De um lado, a China com o seu crescimento impressionante; do outro, os EUA com seu déficit comercial inacreditável de US$ 790 bilhões (mais de US$ 2 bilhões por dia). Hoje, são os dois motores do crescimento mundial, com destinos intimamente interligados e cooperativos como destaca o presidente do Icone (Instituto de Estudos de Comércio e Negociações Internacionais):

“A China já detém um superávit comercial anual de US$ 200 bilhões com os EUA. Ou seja, uma parcela considerável das reservas asiáticas tem sido utilizada para financiar o rombo dos EUA por meio da aquisição de títulos de longo prazo do Tesouro Federal.”

Marcos S. Jank, Icone, Estado de S. Paulo, 06.09.05

Trata-se de uma relação simbiótica que tem seus limites e não pode ser levada adiante com a atual intensidade indefinidamente. Basta a China sinalizar que não mais usará o seu superávit para financiar generosamente o déficit norte-americano que o mercado financeiro internacional entra em curto-circuito. Daí, a tendência de moderação do crescimento mundial, já que essa situação deve sofrer ajustes graduais. Quando isso ocorrer, o Brasil terá perdido mais essa janela para restabelecer o tão necessário crescimento sustentado.

“Em 2006, o crescimento do PIB deve ficar abaixo de 3%, ante uma taxa projetada de 7,3% para os países emergentes e 5,1% para o mundo.”

Eduardo Giannetti, economista, Exame, 20.12.06