30 dias do governo FHC

gh 04 junto.JPG    Trinta dias é muito pouco tempo para se avaliar um governo: mas é o bastante para se observar o estilo de agir e a direção das decisões, e o suficiente para evidenciar duas certezas.
     A primeira é que o presidente não é político de atos heróicos nem de anúncios espetaculares. Antes, é um gestor que acredita no diálogo, no convencimento e na persuação política, como tem feito nos continuados entendimentos com parlamentares.
    A segunda certeza é que o êxito do seu governo dependerá, em grande parte, do sucesso do Plano Real. Parcela significativa do eleitorado votou no plano, e o presidente fará o que for politicamente necessário para viabilizar suas metas.
    De qualquer modo, uma avaliaçao preliminar sobre os primeiros trinta dias do governo FHC sugere três abordagens:
    A ECONOMIA, ponto alto do governo, onde já obteve duas conquistas. Mostrou, com a inflação de dezembro, que não era estelionato eleitoral. E está conseguindo demonstrar não existir relação funcional entre a crise mexicana e a estabilização da economia brasileira. Mas, como diz o presidente do BC. Pérsio Arida, “a âncora do plano é o ajuste fiscal.” Assim, o governo terá de lutar muito para concretizar as reformas indispensáveis a este ajuste.
    A ADMINISTRAÇÃO, ponto baixo do governo. A Nação, nestes 30 dias, viu uma equipe heterogênea, sem pontos de unidade nem confluência política. O presidente deu um basta oportuno à descoordenação administrativa, mas ainda está limitado pela disputa de cargos entre os partidos. Só a paciência política e sua obstinação pessoal permitirão avançar no rumo dos objetivos nacionais.
    A POLíTICA, o campo mais complexo e mais sensível. É exatamente na arena do congresso que o governo vai buscar os recursos institucionais para modernizar o País. E é precisamente lá que se instala forte resistência ao avanço social contra o corporativismo e o patrionalismo, e onde se travará o combate mais intenso entre o antigo e o moderno. Isto vai exigir muita habilidade e firmeza para modelar as reformas que a economia e a sociedade reclamam.
    Neste momento, a força da aliança política que dá sustentação ao governo é maior que o presidente. Veja-se o que ocorreu para aprovar a MP do imposto de renda: a anistia do senador Humberto Lucena.
    Só na medida em que o governo for conseguindo consolidar uma economia estável, com maiores taxas de crescimento e maior nível de emprego, o presidente poderá passar a ocupar um maior espaço social e político. Talvez, então, ele consiga ser o efetivo condutor político da cena brasileira.
     Dependendo da evolução dos fatos econômicos e políticos, pode haver dois governos FHC. Este primeiro, que deve durar um ou dois anos. Depois, um segundo com outra moldura, outros atores, outra economia, outro discurso. Aí estará nascendo outro país.

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