Concorrente não é inimigo

    Nas sociedades primitivas, qualquer um que não seja do grupo é, em princípio, inimigo. A guerra é a regra predominante nas relações entre as tribos, geralmente, inclusive, para se apropriar das vantagens do inimigo.
    Na época moderna, as técnicas de benchmarking propõem buscar no concorrente o modelo de inspiração, tê-lo como uma espécie de objeto de desejo.
    Entre o passado remoto e a modernidade, o que há de novo nas relações entre os concorrentes? Quais os desafios da contemporaneidade e do futuro?
    Sobre o tema, identifica-se, na Pesquisa Empresas & Empresários Ano V (94/95), que os entrevistados tinham uma certa hesitação para falar da questão, caracterizando-se uma espécie de tabu (tabu = perigo + atração + censura).
     1. Concorrente é adversário: disputa o mesmo mercado, busca atrair a mesma clientela e, com freqüência, tem vantagens competitivas que podem apontar nossas fraquezas. Por isso, há que ter cuidado com eles.
     2. Concorrente também tem interesses comuns, especialmente quando tem vulnerabilidades comuns. Por isso, é possível alianças entre concorrentes que, aí, viram parceiros, para partilhar custos de investimento (capacitação, pesquisa tecnológica), iniciativas de abordagem de mercado ou negociações com fornecedores.
     3. Concorrente é estímulo: provoca, desafia, acentua as diferenças e expõe nossas vulnerabilidades, mobilizando, assim, nosso investimento em melhorias, nosso esforço de superar pontos fracos.
     4. Concorrente tem direito a ética e, por conseqüência, também tem obrigação, no mínimo, pela evidência crescente de que a falta de ética, como arma, pode ter efeito “bumerangue” (volta para quem atirou). Ser ético com a concorrência vai se tornando um imperativo de mercado, numa sociedade que começa, mesmo timidamente, a clamar por ética generalizada.
    Por tudo isso, tratar concorrente como inimigo, com quem só se pode jogar o jogo da guerra (fatal para um ou para os dois), é um traço das relações empresariais que caminha para se tornar coisa do passado, marca de primitivismo.
    RECONHECER O CONCORRENTE É TÊ-LO COMO ADVERSÁRIO MAS, TAMBÉM, COMO INDUTOR DE MUDANÇAS E, ATÉ, COMO POSSÍVEL PARCEIRO.
    EM QUALQUER DOS CASOS, A ÉTICA, COMO PRINCÍPIO, VEM A SER, NO FIM DAS CONTAS, UMA VANTAGEM COMPETITIVA.

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