A armadilha da estabilização

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     Como palestrante convidado da solenidade de entrega do prêmio Contribuinte do Desenvolvimento, promovido pelo Jornal do Commercio, com o apoio do Governo de Pernambuco, dia 22.08.96, no Recife Lucsin Palace, o ex-ministro e atual presidente da Comissão de Economia da Câmara Federal, deputado Delfim Netto, expôs o que chamou de armadilha do plano de estabilização em curso: com exportações deprimidas, o país não pode crescer a taxas de 5 a 6% ao ano como precisa.
     Em primeiro lugar, considerou que o Plano Real foi muito bem sucedido no combate à inflação ao derrubar as altas taxas mensais para algo em torno de 15% ao ano (ainda que bem acima da dos nossos concorrentes que anda em torno de 2,5% ao ano). Chegou mesmo a considerar “brilhante” o mecanismo da URV usado para alinhar os preços relativos, antes da introdução do Real.
     Feita esta ressalva, expôs a opinião de que o custo da estabilização está sendo muito alto por conta da conjugação do câmbio supervalorizado com a maior taxa de juros do mundo (hoje, ainda, 13 vezes maior do que a dos nossos concorrentes).
     Segundo ele, isto ocorreu pelo fato de o governo ter optado pelo modo mais fácil de combater a inflação: a âncora cambial. Ela tem a vantagem de derrubar logo a inflação mas, como inicia com uma expansão da atividade econômica e, em seguida, leva a uma recessão, tem a grande desvantagem de provocar, à medida que o tempo vai passando, a diminuição da vontade de fazer o que tem que ser feito (o ajuste fiscal).
     Além de ter optado pelo modo mais fácil, o governo cometeu, na opinião de Delfim, uma grande “barbeiragem” ao provocar, com o ajuste, perda de metade do patrimônio do setor agrícola, jogando 400 mil desempregados rurais no Movimento dos Sem Terra que, com isso, ajudou a fortalecer.
      O outro modo de combater a inflação, a âncora monetária, o mais difícil, tem o inconveniente de começar com uma recessão mas tem a vantagem de, ao promover antes o equilíbrio fiscal, preparar as bases para a expansão sustentada da economia.
     Por isso não ter sido feito, Delfim Netto considera que estamos hoje numa situação difícil. Precisamos crescer a taxa de 5 a 6% ao ano para absorver a demanda por empregos e combater o déficit público e se fizermos isto sem mexer no câmbio, geramos um déficit cambial anual insustentável de US$ 5 bilhões. Se, por sua vez, o câmbio for mexido sem ajuste fiscal, a inflação volta.
     Como sair da armadilha? Segundo ele, encontrando mecanismos para uma expansão vigorosa das exportações que permita financiar as importações de que precisamos para crescer (neste particular, inclusive, considerou positiva a providência, em curso no Congresso Nacional, de desonerar do ICMS as exportações brasileiras).
Imagem 84-2.JPG     Para crescer, dispomos do fator comumente mais escasso no desenvolvimento que é o empresário empreendedor. Não há país subdesenvolvido que tenha mais capacidade empreendedora do que o Brasil. Prova disto é o fato de termos sido o país que mais cresceu no mundo no período de 1900 a 1980.
     Só que não é fácil competir com juros exorbitantes e câmbio desfavorável.

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