No Brasil de hoje, deflação, infelizmente, rima com incerteza.
De fato, o que os últimos dados têm demonstrado é uma tendência de queda para zero dos índices mensais, com alguns, inclusive, marcando, deflação. O IGP-M da FGV acusou variação em agosto de 0,004%, o ICV do Dieese, para a cidade de São Paulo, -0,26%. Registrou-se, também, deflação no IPC-RJ (-0,04%) referente ao mês passado.
Esses índices, segundo o Ministro Malan, sinalizam, para breve, uma taxa anualizada de inflação de um dígito.
Estaria ótimo se o crescimento da economia não estivesse contido pela impossibilidade de crescimento das exportações devido ao câmbio valorizado (que está gerando déficits mensais da balança comercial) e se os juros, ainda muito altos, não estivessem provocando desequilíbrio fiscal pelo aumento da dívida pública.
A questão de fundo continua a mesma, já faz algum tempo: até quando o controle da inflação se sustenta sem um ajuste fiscal que equilibre o orçamento federal e afaste a necessidade da emissão de moeda (que gera inflação diretamente) ou da emissão de títulos (que aumenta a dívida e, por conseguinte, o déficit público) para financiar o desequilíbrio entre receitas e despesas?
O governo parece ter perdido o caminho das reformas constitucionais e está no compasso de espera do término das eleições para retomar o tema da reeleição.
Os últimos acontecimentos na Argentina (protestos da população contra a política econômica que já há alguns anos associa controle da inflação com alto desemprego) não dão muita consistência ao Cenário Argentino (ver Conjuntura & Tendências nº 75) com o qual o Presidente Fernando Henrique parecia trabalhar (esticar o controle da inflação para, com seus efeitos, ser reeleito em 98).
Os ganhos que o Plano Real propiciou à população, evidenciados pela última pesquisa do IBGE, não são suficientes para garantir a reeleição baseada apenas no que já foi feito. É preciso mais.
Afinal, este governo não foi eleito só para manter a inflação baixa nem, muito menos, para ser reeleito para fazer o que devia ter feito no primeiro mandato.
O que se espera do governo federal são políticas públicas consistentes com um desenvolvimento econômico e social sustentado. A abertura da economia, na esteira da chamada globalização, não é um processo que se regula por si só. Exige uma ação mediadora do governo para evitar os efeitos colaterais que não são poucos. Mas, isso já é assunto para o próximo Conjuntura & Tendências.