Por uma globalização dosada

Imagem 88.bmp Imagem 88-1.bmp
 
 
¼br />     
     “A simples globalização, isto é, a nossa descuidada inserção na economia mundial fere dramaticamente o projeto de integração nacional. Não adianta dizer apenas que a globalização é uma fatalidade, o que é certo. Trata-se de usar essa fatalidade para nossos objetivos.” Delfim Netto, Revista Carta Capital, 07.08.96
     Como mencionado no Conjuntura & Tendências número 86 (“Deflação e Incerteza”), o processo de globalização (abertura à concorrência internacional) por que passa a economia nacional, ao mesmo tempo em que promove o drástico aumento da competição e da produtividade sistêmica (segundo a Revista Exame de 03.07.96, a economia produz 31% mais do que há quatro anos, com o mesmo número de pessoas empregadas), provoca efeitos colaterais danosos que exigem a mediação orientadora do governo.
     Durante mais de duas décadas (anos 70 e 80), no período em que vigorou o modelo de “substituição das importações” e ocorreu a crise da dívida externa, a economia brasileira foi uma das mais fechadas do mundo. Este fato, evidentemente, gerou uma infinidade de distorções e muita gente ficou muito mal acostumada com a falta de competição.
     No início dos anos 90, seguindo uma tendência mundial e, em particular, dos planos de combate às altíssimas taxas da inflação na América Latina, a economia brasileira foi sendo progressivamente aberta à concorrência externa até que, no final do Governo Itamar Franco, o Ministro da Fazenda Ciro Gomes deu uma “escancarada” geral. A ponto de o Governo Fernando Henrique ter tido que voltar atrás em algumas das decisões implantadas.
     Esse processo de exposição do barco meio enferrujado da economia brasileira ao mar revolto da concorrência internacional não foi feito sem sacrifícios. Muitas empresas quebraram, outras mudaram de mãos e muita gente perdeu o emprego.
     Isto porque a globalização não é um processo neutro, nem pode ser considerado um fim em si mesmo. Como muito bem alerta a economista Tânia Bacelar (no II Encontro de Sociólogos de Pernambuco, Fundação Joaquim Nabuco, 02.02.96), a globalização é um processo seletivo que, necessariamente, provoca polarização (entre áreas, pessoas e atividades) e, em decorrência, tende a excluir o específico, o pequeno, o local.
     A abertura da economia à concorrência internacional pode ser entendida como um remédio poderoso para o mal da competição atrofiada. E, como todo remédio poderoso, pode ter efeitos colaterais graves. Logo, exige dosagem adequada e acompanhamento conseqüente, sob pena de provocar mais danos que benefícios.
     O único agente que pode fazer isto é o governo federal, mais nenhum outro. E o governo federal está fazendo menos do que pode e deve, deixando a regulação por conta do próprio paciente, o mercado, com efeitos desastrosos em alguns casos.
     A globalização da economia brasileira não pode deixar de ser encarada sob a ótica da soberania nacional e nem deixar de estar a serviço de um projeto de desenvolvimento do país. Caso contrário, vão ser lançadas na marginalidade irrecuperável regiões (o semi-árido nordestino, por exemplo), empresas (as que não conseguirem competir com o dumping social da China, por exemplo) e pessoas (quem não tiver tido chance de se capacitar ou reciclar, por exemplo), comprometendo, no médio prazo, a própria estabilidade social e política do país.
     Uma coisa é certa, no entanto: embora, em nome da soberania nacional, a globalização da economia tenha que ser conduzida de modo conseqüente, ela é um processo irreversível. Portanto, para as empresas, é prudente ficar com um olho no padre (o governo) e outro na missa (o mercado) e nunca deixar de agir esperando ajuda. Ela pode não vir.

Deixe um comentário