No meio empresarial é praticamente unânime o apoio à reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Por mais que se saiba que a estabilidade não está consolidada sem as reformas estruturais (previdenciária, administrativa, fiscal, eleitoral, etc.) e que o Real está ancorado numa mistura a médio prazo explosiva de câmbio valorizado, juros altos e crescimento necessariamente baixo, o sentimento predominante é de alívio pela queda fantástica da inflação e por sua manutenção em níveis civilizados de um dígito anual.
Este sentimento foi o principal cabo eleitoral do Presidente e hoje ainda é o principal capital com que conta para a reeleição.
De certa forma, os pecados do primeiro mandato (desemprego alto, escancaramento da economia à concorrência internacional, juros insuportáveis, falta de políticas industrial e regional, CPMF, etc.) são absolvidos pela “tranquilidade” com os índices e com o fato de termos um dos presidentes intelectualmente mais preparados do mundo para a função.
Não há quem possa antecipar com segurança o que vai acontecer no curto prazo com a votação da emenda da reeleição; o jogo de interesses é muito grande. Afinal, são necessários 3/5 dos votos dos congressistas, em dois turnos e em votações separadas na Câmara e no Senado. Tudo isso em meio às articulações para a eleição das mesas das duas casas para os próximos dois anos.
O esforço para garantir a maioria é enorme e praticamente paralisa o governo. Se houver contratempos agora, ainda há o recurso do plebiscito e muita água rolará até que seja garantido o direito de reeleição.
Ao mesmo tempo em que a agenda política permanece congelada, praticamente todas as previsões econômicas sinalizam para um ano de 1997 muito semelhante a 1996, com a “estabilidade” preservada, mas, também, com a permanência inalterada dos fatores de deteriorização lenta e gradual da base de sustentação do Real (elevação do déficit da balança comercial, aumento da dívida pública interna e externa). Enquanto não for feito o ajuste fiscal definitivo (equilíbrio do orçamento público) que requer, entre outras coisas, a aprovação das reformas estruturais, este cenário tende a permanecer constante.
A única diferença entre o desdobramento do cenário econômico de 97 e o ocorrido em 96 é que o governo talvez seja obrigado a pisar no freio da economia no segundo trimestre (depois de esgotado o calendário que deseja cumprir da emenda da reeleição), visando recolocar os índices de crescimento no patamar “suportável” de 4% ao ano.
A estabilidade do Real, nas condições em que está ancorada, não suporta um crescimento da economia nos níveis atuais (mais de 6% ao ano) porque provoca aumento das importações (deterioração maior da balança comercial) e inflação de demanda (os níveis de utilização da indústria parecem ter chegado, no final do ano passado, acima de 85% da capacidade, próximo ao que aconteceu no Plano Cruzado).
Supondo que a releição fosse um produto, seria possível manter um argumento de venda até convincente: “uma das boas vantagens da reeleição é que ela garantirá mais tempo ao Presidente para fazer as reformas de que o país precisa para alcançar a estabilidade definitiva, o que proporcionará, sobretudo, tranquilidade para trabalhar, investir e crescer; e todo mundo precisa de tranquilidade para trabalhar, não é mesmo?”
É muito difícil responder não a este argumento. Prova disto é que a campanha pela reeleição, veiculada atualmente na televisão, está sendo paga com contribuições empresariais e de sindicatos de trabalhadores.
O sentimento predominante é o de que, na atual conjuntura, reeleição virou sinônimo de estabilização. Então, se a causa é boa e forem respeitadas as regras da democracia e da moralidade pública, que venha logo para diminuir os custos da espera.