Fundar e consolidar uma empresa, desenvolvendo um negócio é uma empreitada exigente. Fazê-lo em condições de ser competitivo, mais ainda. Fazer isso em família, então, aumenta muito mais o nível de exigência.
Considerando que muitas das grandes multinacionais um dia foram familiares e que muitas das nossas empresas atuais foram ou são de origem familiar, cabe perguntar: o que, em princípio, faz da família uma fonte geradora tão freqüente de empresas?
É quase impossível desconsiderar uma inevitável associação com as exigências de fazer uma sociedade:convergência de interesses, vínculos consistentes, uma boa base de confiança e sentimento mínimo de unidade. Tudo isso, supõe-se ter em família.
Mas não é só pelo potencial de sociedade formal, dessa “sociedade natural” constituída pela família, que se explica a incidência de negócios em família.
Há de ser considerado, também, o fato de que muitas empresas foram fundadas por personagens empreendedores, muitos homens e algumas mulheres que, vendo consolidado seu empreendimento, sentem um inevitável e legítimo desejo de fazê-lo continuar com seus sucessores naturais, filhos ou outros parentes.
Como contrapartida e complemento desse desejo, é também frequente que filhos ou outros parentes se interessem em participar desse negócio, queiram aprender a conduzí-lo ou pensem em torná-lo ainda maior ou mais sólido.
A história mostra, porém, que esse caminho “natural”, não é tão natural assim. Precisa ser gerenciado, sob pena de perder-se em descaminhos que podem matar a empresa.
Por isso, a pergunta título: fazer negócios em família trata-se, afinal, de uma contradição (Família X Empresa) ou de uma agregação (Família + Empresa)?
Três coisas são fundamentais para que a família não se transforme em fator de destruição e que, ao contrário, seja aproveitado ao máximo seu potencial positivo: (1) buscar conhecer e compreender os dinamismos complexos envolvidos; (2) assumir a profissionalização como alternativa irrecusável, indo às suas últimas conseqüências; (3) aprender a enfrentar a dimensão imaginária, afetiva e emocional das relações como parte de uma realidade administrável, mesmo que nem sempre racional.
Além disso, é também muito facilitador colocar esses três processos num contexto de “mudança gerenciada”, tentando estabelecer as bases de um novo modelo empresarial que envolva componentes básicos de competitividade.
Algumas vezes, um apoio externo é essencial para ajudar a sair do emaranhado da mistura família-empresa, justo porque aquele que apoia não está implicado na história familiar.
Enfrentadas a questões problemáticas e assumindo o que precisa ser feito, a família pode representar um grande potencial de desenvolvimento e consolidação da empresa: pela solidez dos vínculos; pela base de confiança; pela maior facilidade de acomodar interesses; pela facilidade de articulação e integração.
É evidente que essas vantagens são potenciais e dificilmente se tornam realidade como fato natural. Ao contrário, precisam ser estimuladas, investidas, administradas.
Por isso, pode-se dizer que a pergunta-título (Família X Empresa ou Empresa + Família?) tem duas respostas: as duas conexões são simultaneamente verdadeiras já que há uma dimensão inevitável de contradição e outra de potencial agregador; qualquer uma delas pode prevalecer, dependendo do modo de gestão instalado e das decisões de mudança assumidas.
Em síntese, o desafio maior, para a maior parte das empresas familiares é agir estrategicamente quanto ao fato consumado de a família estar na origem e na gestão da empresa: aproveitar as oportunidades e forças e enfrentar as ameaças e fraquezas. Afinal, quem corre riscos tende a conseguir mais.