De fato, pelo inegável sucesso que o Plano Real tem obtido até agora, no controle da inflação, o debate sobre que futuro tende, muito comumente, a resvalar para o campo de disputa entre os “a favor” e os “contra.”
É preciso não cair nessa armadilha e não perder de vista que, apesar do êxito inicial extraordinário, o programa de estabilização não tem um futuro tranqüilo. Uma boa maneira de repensar as dificuldades e as necessidades de ajuste de rumo ou mudança de rota é rever o que, do ponto de vista macroeconômico, pode ser considerado fundamental numa economia sólida e capaz de promover um crescimento sustentável.
Delfim Netto, em outro artigo na Folha de São Paulo de 23.04.97, relaciona o que, para ele, é fundamental para sustentar o crescimento econômico do país nos níveis de 6% a 7% ao ano, o mínimo necessário para dar emprego à força de trabalho que entra anualmente no mercado.
A avaliação que ele faz depois de relacionar o que chama dos “fundamentais” é a seguinte: “Nossa taxa de inflação anual é um êxito, mas é ainda o dobro de nossos competidores asiáticos e o triplo de nossos parceiros desenvolvidos. Nossa taxa de juro real continua ‘escorchante’. Nossa política fiscal é deplorável (e o Presidente declara que não sabe o que fazer com ela!).
Nossa taxa de câmbio real está exageradamente sobrevalorizada. E nossa balança em conta corrente tem sustentabilidade duvidosa.”
Vê-se, por essas observações, que o caminho da estabilização é atribulado e, o que é ruim, o Governo Federal, enredado na teia embaraçosa da reeleição, parece não ter como poder avançar, tão cedo, nas correções de rumo necessárias. Resta, para as empresas, manter a cautela e aprofundar os investimentos no aperfeiçoamento da gestão, sem esperar facilidades externas.