“Planejar-se para o presente requer uma clara definição do negócio, um preciso delineamento dos segmentos de consumidores-alvo, funções voltadas para o consumidor e as abordagens que o negócio precisa tomar; planejamento para amanhã é quase sempre focalizado em como o negócio deve ser redefinido para o futuro.”
Derek F. Abell, no livro “Administrando com Dupla Estratégica-Dominando o Presente. Conquistando o Futuro”, Editora Pioneira Administração e Negócios, São Paulo, 1995
Outra grande dualidade da gestão empresarial, que tem repercussões sobre o planejamento e a formulação de estratégias, é aquela que envolve a necessidade de agir bem no presente (inclusive para estar vivo no longo prazo) e de se preparar para também agir bem no futuro, considerando que as condições do futuro estão sendo gestadas hoje.
Na atualidade, o ambiente de negócios no mundo e particularmente no país tem-se tornado cada vez mais turbulento e competitivo. De acordo com Derek F. Abell, “apenas as administrações que focalizam sua atenção na mudança parecem ser capazes de sobreviver”. A partir desta constatação, vai mais além no raciocínio: “enquanto planejar para hoje exige organização, planejar para o amanhã exige reorganização (…) planejar-se para hoje liga-se a administrar-se para a obtenção de resultados; planejar-se para o amanhã é ligado a se administrar mudanças”.
Daí, ser possível usar com mais propriedade o conceito de “bifocalidade”. Como se estivesse usando um óculos bifocal, o gestor de negócios deve instrumentalizar-se para poder lidar bem com o que está próximo à vista (o presente) e, ao mesmo tempo, com o que está distante (o futuro). Mesmo porque, ele terá muito mais chances de chegar onde pretende ir se não ficar tropeçando nos batentes que aparecem pelo caminho, porque seu óculos só tem lente “para longe.” Ou, por outro lado, perder-se sem saber para onde ir porque a lente dos seus óculos só funcionam “para perto” e, à distância, fica tudo “embaçado”.
Acontece, todavia, que isto, como a maioria das coisas, é bem mais fácil de dizer do que de fazer. O mais comum é as empresas estarem “tão envolvidas com o presente que falham, e de maneira total, em se preparar para o futuro”.
Gary Hamel e C.K. Prahalad, em seu excelente livro “Competindo Pelo Futuro – Estratégias Inovadoras para Obter o Controle do seu Setor e Criar os Mercados de Amanhã” (Editora Campus, Rio de Janeiro, 1995), alertam que “muitas vezes, o que impede a empresa de imaginar o futuro e descobrir um novo espaço competitivo não é o desconhecimento do futuro, mas o fato de que os gerentes tendem a olhar o futuro através da perspectiva estreita dos atuais mercados servidos”.
Preparar-se para o futuro exige, portanto, sobreviver bem no presente e pensar sistematicamente no futuro (usando as duas lentes), perguntando, sistematicamente, “e daqui a 10 anos?” Ou seja, “os meus clientes hoje são esses, e daqui a 10 anos, quais serão? ” E assim por diante em relação aos produtos, concorrentes, parceiros etc.