“A crise revelou o que já se sabia. Que nós precisamos de medidas para diminuir a vulnerabilidade.”
Presidente Fernando Henrique Cardoso, entrevista coletiva em 05.11.97
A pergunta que dá vontade de fazer ao Presidente, depois dessa afirmação, é só uma: e por que essas medidas não foram tomadas antes? Agora, na correria, a margem de manobra é mínima. Todo gestor sabe que, quando isto acontece, o perigo é companheiro da decisão.
O Governo estava apostando, irresponsavelmente, que o cenário de tranqüilidade externa se manteria até a eleição. Era o Cenário Argentino já tratado por Conjuntura & Tendências (“vamos empurrando com a barriga que depois da reeleição a gente vê o que dá para fazer”).
Não deu. A instabilidade externa que começou com a quebra dos tigres asiáticos e, agora, atinge as bolsas de valores do mundo inteiro, não dá sinais de que vai se acabar logo.
As bolsas de valores brasileiras estão sendo as mais atingidas do mundo porque todos sabem que as bases de sustentação do Plano Real são mais frágeis do que precisavam e poderiam ser. Há muito tempo não é segredo para ninguém que manter a inflação baixa à custa de déficits orçamentários altos, endividamento público (interno e externo) crescente e dependência excessiva de capitais externos voláteis, não ia terminar bem.
No meio empresarial, que credibilidade teria uma empresa que gasta mais do que recebe, compra mais do que vende, precisa leiloar os seus ativos para fazer caixa e usa as contas garantidas o tempo todo? Mais cedo ou mais tarde, os bancos exigirão liquidez para renovação dos empréstimos e o que acontece? Concordata ou falência, na certa.
Num contexto como esse, colocar a responsabilidade pela situação na falta de aprovação das reformas não convence. O próprio Presidente disse isso na entrevista coletiva do dia 05.11.97: “as reformas não resolvem, é o conjunto que resolve: aumentar a exportação, uma política mais austera, uma política monetária – que já tem sido austera – e a capacidade de atrair mais investimentos”.
Os acontecimentos recentes (continuação da queda nas bolsas) estão evidenciando que apenas a elevação cavalar dos juros mais altos do mundo (medida acertada para conter a hemorragia) não basta. As medidas fiscais (diminuição das despesas e aumento das receitas) serão duras, com o agravante de que as receitas já estão altas (a maior carga tributária da história do Brasil, cerca de 1/3 do PIB).
Esperemos que este susto pelo qual o país está passando permita, ao governo, sair da letargia e tomar as medidas necessárias à firme manutenção do Plano Real, fazendo a menor quantidade possível de “maldades” para aqueles que produzem.
As nuvens negras continuam no horizonte. 1998 não será um ano fácil. Para as empresas, recomendam-se manter “os cintos de segurança afivelados, o encosto da poltrona na posição vertical e as mesinhas travadas” porque a turbulência continua e o pessoal da cabine de comando está surpreendido pelas condições atmosféricas adversas. Esperava céu de brigadeiro e deu de cara com uma bruta tempestade.