“Sempre que dez caboclos não eram suficientes para levantar um tronco de árvore e colocá-lo no buraco do poste, eu tirava um e dizia aos nove restantes que tentassem de novo. Nunca precisei tirar o segundo.”
Marechal Rondon, pioneiro da telegrafia nas regiões remotas do país e da defesa da causa indígena, citado por Darcy Ribeiro, coluna de Elio Gaspari, Folha de São Paulo, 06.04.97
No dia-a-dia empresarial é possível verificar, embora não seja freqüente, esta situação relatada pelo Marechal Rondon. Às vezes, com menos recursos e mais desafios, são alcançados resultados surpreendentes.
É pena que não seja regra. Na maioria das vezes, o que se vê é justamente o oposto. Mais recursos para obter menos resultados. A conclusão à qual se pode chegar é que, nesses casos, há, também, desafio de menos.
No futebol, é comum dizer-se que o resultado mais perigoso é quando um time termina o primeiro tempo ganhando de 1 x 0 ou, mesmo, 2 x 0, num jogo disputado. Se o adversário fizer um gol, ele vai querer virar o jogo e, não raro, consegue. São demasiadamente freqüentes resultados 1 x 2 ou 2 x 3, com o time que começou em desvantagem, ganhando “de virada.”
O que ocorre, quando isto acontece? Com certeza, o time em desvantagem, ao fazer o primeiro gol sente-se desafiado a virar o jogo.
A história empresarial está repleta de exemplos de competidores menores que desafiam os líderes de segmentos de mercado e conseguem vitórias aparentemente impossíveis.
Gary Hamel e C. K. Prahalad, no seu excelente livro “Competindo pelo Futuro – Estratégias Inovadoras para Obter o Controle do seu Setor e Criar os Mercados de Amanhã” (Editora Campus, 1995, Rio de Janeiro), citam o caso da empresa japonesa Komatsu que, no início da década de 60, tinha o sonho de “cercar a Caterpillar” com o objetivo de ser o seu principal concorrente no setor de equipamentos de terraplenagem, no mundo inteiro. Conseguiu. O mesmo aconteceu com a Canon em relação à Xerox, com a Microsoft em relação à IBM, com a CNN em relação às grandes redes de TV americanas, com a Sony em relação à RCA, com o Wal-Mart em relação à Sears, etc.
Em todos os casos o desafio assumido foi grande e o estímulo também.
Na atual conjuntura econômica adversa, o momento é oportuno para assumir desafios estimuladores. Afinal, nunca é demais lembrar, o impacto da crise e da desaceleração econômica não é igual para todos. O mesmo pode-se dizer das oportunidades. Elas serão melhor ou pior aproveitadas, dependendo do grau de desafio que as empresas conseguirem impor a si mesmas e da capacidade de motivar suas equipes para isto.