Quem acompanhou a crise da dívida externa brasileira na década de 80, que culminou com a moratória unilateral (quando o Brasil deixou de pagar seus compromissos financeiros internacionais por falta de caixa), lembra-se, com espanto, da cifra de US$ 100 bilhões. Era o total do quanto devíamos aos bancos credores, o valor mais alto que se ouvia falar naqueles tempos.
Hoje em dia, não se têm números precisos sobre a dívida externa brasileira. Alguns dizem estar na casa dos US$ 180 bilhões. Difícil saber com precisão.
Em compensação, com a recente crise financeira internacional, originada pela quebra dos tigres asiáticos e com repercussões importantes sobre o Japão, fomos surpreendidos com valores colossais, capazes de deixar complexados aqueles que se espantavam com tão pouco (?), há quinze anos atrás.
US$ 4.500 bilhões – Na verdade, US$ 4,5 trilhões. Valor do PIB do Japão, segunda maior economia do planeta, ameaçada por uma séria crise bancária.
US$ 1.300 bilhões – Valor das transações monetárias internacionais diárias (equivalente a 85% de todas as reservas cambiais do mundo).
US$ 1.300 bilhões – Valor estimado do montante de ações ou títulos nas mãos de investidores japoneses.
US$ 696 bilhões – Ativos do maior banco do mundo: Bank of Tokyo – Mitsubishi (Japão).
US$ 500 bilhões – Estimativa do valor necessário para limpar a contabilidade dos bancos japoneses de empréstimos de difícil retorno (70% do PIB brasileiro).
US$ 320 bilhões – Total estimado do que os bancos japoneses têm investido em títulos do Tesouro Americano (20% dos papéis do governo dos EUA).
US$ 250 bilhões – Total estimado dos empréstimos concedidos pelo Japão a outros países asiáticos (os tigres combalidos).
US$ 250 bilhões – Valor estimado de ativos “evaporados” nos últimos dez anos no mundo, em decorrência das crises e das quedas nas bolsas.
US$ 230 bilhões – Valor das reservas cambiais do Japão.
US$ 160 bilhões – Valor estimado da dívida coreana (governo, bancos e empresas).
US$ 150 bilhões – Valor estimado dos créditos “podres” dos bancos dos tigres asiáticos.
US$ 100 bilhões – Estimativa do total do socorro que o FMI terá que conceder à Coréia (até agora já assegurou US$ 57 bilhões, no maior pacote de ajuda da história do Fundo).
São números astronômicos que começaram a circular nos meios de comunicação, sobretudo depois dos primeiros abalos asiáticos, no meio do ano.
Embora sejam valores estimados, cuja exatidão é difícil precisar, são indicativos da magnitude do problema que é o desregramento do mercado financeiro internacional e do risco que se corre no caso de um desarranjo estrutural nessa selva planetária de títulos e papéis, muito deles de lastro duvidoso.
Tudo leva a crer que será necessário o estabelecimento de uma nova ordem regulatória internacional. As instituições criadas depois da 2ª Guerra já não dão conta do recado. O FMI, semanas antes da crise estourar, tinha divulgado relatório louvando a saúde financeira dos tigres.
As repercussões deste quadro internacional crítico sobre os países chamados emergentes, como o Brasil, podem ser as piores possíveis, como já se viu em outubro, principalmente se os fundamentos da estabilidade são pouco consistentes, como é o nosso caso.
Do ponto de vista das empresas, há três coisas a fazer: (1) torcer para que o pior não aconteça lá fora; (2) cobrar, por todos os meios possíveis, que o governo faça certo o seu dever de casa; e (3) manter-se financeiramente saudável e mercadologicamente sintonizado.