A esperança e a dúvida

“E quem acredita nas previsões dos economistas? Sou sociólogo e por isso as coisas deram certo.”

Presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a queda dos juros, Jornal do Brasil, 07.05.98

Essa certeza manifestada pelo presidente de que as coisas deram certo, do ponto de vista da estabilização econômica, não é compartilhada, nem pela população, nem pela comunidade financeira internacional.
No meio empresarial, por exemplo, é possível detectar um misto de esperança de que, afinal, a coisa dê certo (a inflação não suba mais, os juros fiquem em patamares civilizados e o país volte a crescer a taxas necessárias) e de dúvida (será que esse programa cheio de equilíbrios precários se sustenta até a estabilidade consolidar-se ?).
Esse parece ser o dilema que está na cabeça dos agentes econômicos e pode ser detectado nas análises publicadas na imprensa, sejam de origem nacional ou internacional.
A evolução recente de alguns indicadores da economia tem reforçado este sentimento misto.
INFLAÇÃO: as taxas são as mais baixas da história. Em São Paulo houve inflação negativa nos primeiros meses do ano. As previsões são de algo entre 3 a 4% em 1998. É quase a inflação de um dia em épocas passadas.
RESERVAS: depois de terem baixado abruptamente em meio à crise asiática, com as medidas tomadas pelo governo subiram tanto que seu crescimento teve que ser desacelerado. As estimativas atuas são de que as Reservas Cambiais do país estão acima de US$ 70 bilhões (chegaram a US$ 52 bilhões em dezembro/97).
RECEITA: as receitas do governo federal vêm batendo recordes sucessivos. A arrecadação de impostos no primeiro quadrimestre do ano alcançou um crescimento real de 27% em relação ao mesmo período de 97.
DÉFICIT: a última apuração das contas públicas evidenciou o pior resultado desde dezembro de 91, apesar da receita recorde. Os gastos superaram as receitas em US$ 8,8 bilhões. Este é um problema sério, sobretudo num ano eleitoral.
JUROS: depois de terem sido os maiores do mundo, depois do estopim da crise asiática, os juros já baixaram até o patamar pré-crise. Entretanto, ainda estão altíssimos. A taxa real básica está em 23% ao ano (chegou a 43% em novembro/97).
DESEMPREGO: pelos critérios do IBGE é o maior desde 84 (auge da recessão na “década perdida”). De acordo com o DIEESE, em fevereiro a taxa de desemprego total foi de 17,2% da força de trabalho. Uma tristeza. 
O comportamento desses indicadores, mais freqüentemente citados, são uma evidência importante de que o estado de espírito oscilante entre esperança e dúvida tem fundamentos. Resta torcer para que o governo federal saiba o que está fazendo e continuar trabalhando, no âmbito das empresas (onde são poucos os economistas e, menos ainda, os sociólogos) para que a esperança prevaleça e as coisas dêem, mesmo, certo.

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