MEU CONJUNTURA PREFERIDO Para Affonso Pereira, advogado, Chefe de Gabinete da Presidência da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, o melhor C&T da coletânia O Melhor do Conjuntura & Tendências é o de nº 127 (página 72), intitulado “O Sucesso do Passado como Mau Conselheiro – Desaprendizado Organizacional”, porque “o apego às ortodoxias internas é um dos piores males das organizações. Jogar fora parte do passado, desaprendendo e sendo mal comportado, é, muitas vezes, a atitude mais responsável para o sucesso de qualquer empreitada. Isto também vale – e como! – para o serviço público”.

Apesar do tema do desaprendizado organizacional já ter sido tratado antes pelo Conjuntura & Tendências, vale a pena aprofundar um pouco mais a questão devido à necessidade aguda de mudar procedimentos estabelecidos nas organizações, em face do aumento generalizado da competição.

“Não tenha medo de repensar o seu negócio – seus concorrentes já o estão fazendo.”

Kent Nelson, executivo americano do UPS, revista Exame 25.02.98

É inegável que aprender com o passado, estar atento às lições da história, é fundamental. Mas, hoje em dia, cada vez mais, isso não é suficiente. Em muitos casos, o sucesso do passado é o pior conselheiro que pode haver. O danado é que, no campo da administração de empresas, a toda hora estão surgindo conceitos que se pretendem absolutos, sabedorias universais que terminam produzindo um terreno minado de modismos e criando um império de meias verdades. Um americano faz uma pesquisa acadêmica, chega a determinadas conclusões, publica um livro e, aí, tem-se a última palavra em gestão. É o caso do conceito de “learning organization” (organização de aprendizagem), importante mas que, da forma como é manipulado pelos discípulos de ocasião, dá a impressão de que a única coisa que realmente importa é aprender com a experiência passada. Trata-se de uma típica meia verdade.

“Sou totalmente contra a idéia de aprendizado empresarial. Argumento a favor das organizações que esquecem. Não se chega a lugar nenhum quando há muito treinamento e muita gente pensando e aprendendo a mesma coisa.”

Tom Peters, revista Amanhã, fevereiro 1998, copyright Wired Magazine Group

O exagero de Tom Peters é para ressaltar a importância do outro lado da questão. Tanto quanto aprender com o passado, é fundamental esquecer o que, embora já tenha dado certo antes, não serve mais para o presente e pode colocar em risco a sobrevivência da empresa no futuro próximo.

“Para chegar ao futuro uma empresa precisa estar disposta a jogar fora, pelo menos em parte, o seu passado.”

Gary Hamel & C. K. Prahalad em “Competindo pelo Futuro”, editora Campus, Rio de Janeiro, 1995

Não é pequeno o número de empresas que, hoje em dia, estão vivendo a situação angustiante de constatar que a experiência do passado já não é mais suficiente para dar conta dos desafios do presente e do futuro. E não são poucas as que, apesar disto, insistem em repetir a fórmula inócua, ficando presas numa espécie de armadilha mental. Enquanto isso, o principal recurso que têm para fazer as mudanças necessárias (o tempo) vai se esgotando.

“Não se pode continuar fazendo o que deu certo uma vez, pois tudo à sua volta está sempre mudando. Para vencer é preciso estar à frente das mudanças.”

Sam Walton, fundador da Wal-Mart, citado por James Collins & Jerry Porras em “Feitas para Durar”, editora Rocco, Rio de Janeiro, 1995

Desaprender com a conficção de que isso é o melhor a fazer não é fácil mas é possível. Sobretudo, é preciso disposição e cabeça fria. Com a cabeça quente o sujeito tende, mesmo inconscientemente, a repetir o passado.