A turbulência no já conturbado cenário financeiro internacional, agravada pela quebra da Rússia, longe de diminuir, tem redobrado seus efeitos com a forte oscilação das bolsas de valores, puxadas por Wall Street que, em dois dias consecutivos, teve sua 2ª pior queda da história (6,37% em 31.08.91) e uma das maiores altas num único dia (3,82% em 01.09.98), seguindo-se um movimento tendencial e generalizado de queda em todo mundo.
Os efeitos sobre o Brasil foram imediatos. Nas duas últimas semanas tem havido uma perda média das reservas cambiais da ordem de US$ 1 bilhão por dia. Se este ritmo se mantiver, o governo será forçado a tomar medidas fortes para conter a sangria. Segundo a Folha de São Paulo (03.09.98), “na avaliação do mercado, há um número cabalístico – US$ 50 bilhões – , abaixo do qual o país ficaria muito vulnerável no setor externo“.
Este quadro preocupante já provocou uma revisão do cenário econômico interno mais provável, com o qual as empresas trabalhavam no início de agosto: manutenção da política econômica sem alteração até a eleição e, depois, medidas de ajuste mais ou menos fortes, dependendo do contexto internacional no momento.
Hoje, com a fuga de divisas, com o rebaixamento sofrido, quinta-feira dia 03.09.98, pelo Brasil na classificação de risco da Moody’s (uma das principais agências de classificação de risco do mundo que mantinha, há nove anos, o mesmo conceito em relação ao país) e com a queda persistente das bolsas de valores brasileiras (no dia do rebaixamento da Moody’s o índice da Bolsa de São Paulo atingiu 8,6% negativos), o quadro mudou e mudou para pior.
Do ponto de vista empresarial, mais do que nunca é preciso cautela. Rigorosamente ninguém, hoje, tem condições de antecipar, com um mínimo de segurança, o que vai acontecer na economia, nem no âmbito nacional nem, muito menos, no internacional.
Já não é impossível um ajuste pré-eleitoral, mesmo que o governo diga o contrário e promova, como aconteceu a semana passada, um rebaixamento episódico dos juros, via TBC (Taxa Básica do Banco Central), de 19,75% ao ano para 19%. Nem mesmo uma desvalorização do câmbio pode ser descartada de pronto, como era há 15 dias atrás.
“A economia é uma ciência mais incerta que a meteorologia. É uma chatice andar com guarda-chuva, mas é melhor do que chegar molhado em casa.”
Cândido Bracher, banqueiro brasileiro, revista Exame Portugal, março/98