“Sempre antecipo a pior das hipóteses. Qual é a pior coisa que pode acontecer? O que posso fazer para garantir que não aconteça? O que farei caso aconteça?”
Benjamin Carson, chefe do departamento de neurocirurgia pediátrica do John Hopkins Hospital, Baltimore, EUA, considerado um dos melhores cirurgiões de cérebro do mundo, revista Exame, 11.03.98.
A crise das finanças internacionais deflagrada com a quebra em cadeia dos Tigres Asiáticos, iniciada em outubro/97, e agravada com o desmoronamento financeiro da Rússia, em agosto/98, não dá mostras de se atenuar. Seus impactos sobre o vulnerável programa de estabilização econômica do Brasil ainda não estão muito nítidos mas já esboçam um quadro de dificuldades que exigirá um importante esforço de superação, com custos para o governo, para as pessoas e para as empresas.
No que diz respeito às empresas, mais do que nunca, é hora de cautela e de manter a cabeça fria (se possível, colocando-a, de vez em quando, dentro de um balde de água gelada …). É preciso trabalhar com todas as hipóteses, sobretudo as “piores”.
Acontece que trabalhar com as piores hipóteses não é fácil. Perguntar-se sobre “o que de pior pode acontecer” costuma produzir uma espécie de bloqueio mental e torna muito custoso o exercício de antecipação. Na prática, como o bloqueio impede de pensar no assunto, aquilo que seria “o pior” fica funcionando como se fosse um “monstro”, no escuro, atuando pelo medo que provoca sem, entretanto, poder ser visto porque falta coragem para acender a luz. Geralmente, sob luz intensa, os monstros são menos apavorantes do que parecem (ver quadro abaixo). Acostumar-se com a pior hipótese, familiarizando-se com ela, deixa o decisor mais “sereno” para enfrentar os monstros ou os fantasmas futuros, com muito mais chances de sucesso.
Em época de crise mais aguda, o esforço de trabalhar com todas as hipóteses, inclusive as piores, é não só imprescindível como pode fazer a diferença entre a sobrevivência e o aniquilamento. Se o futuro é incerto, é preciso, então, estar preparado para enfrentar qualquer futuro, sobretudo o menos favorável. Prepare-se para o pior, antecipe a alternativa mais pessimista. Se ela se materializar, encontrará a defesa preparada, se não, melhor.
“Não é possível saber, e não importa, qual será o futuro. A única pergunta relevante é: o que faremos se tal coisa acontecer?”
Arie P. De Geus, responsável durante muitos anos pela área de planejamento da Shell, onde desenvolveu o pioneiro trabalho de planejamento por cenários, revista Exame 28.01.98. Acaba de lançar no Brasil o livro “A Empresa Viva”, Editora Campus, Rio de Janeiro.
Ver a respeito
No filme “Alien, o 8º Passageiro” (1979, direção de Ridley Scott, com Sigourney Weaver), um clássico do suspense e da ficção científica, o monstro é apavorante porque não aparece, está sempre no escuro. Na continuação, de 1986, “Alien, o Resgate” (direção de James Cameron, também com Sigourney Weaver), de qualidade inferior ao primeiro, o monstro perde muito de sua personalidade ao aparecer de corpo inteiro, à luz do dia, sobretudo na cena final, quando chega a parecer ridículo com seu aspecto de calango tamanho família. Nos demais capítulos da série, então, nem se fala. Quase começamos a sentir pena do bicho. Vale a pena conferir. |