Conta o folclore político que o presidente Costa e Silva dirigia-se, a bordo de um avião militar, de Brasília para o Rio de Janeiro quando, já próximo da aterrissagem, foi detectado um problema na aeronave e o pouso, no aeroporto Santos Dumont, foi feito em regime de emergência. Assim que o avião parou, o chefe da segurança gritou para os passageiros: “corram, que o avião pode explodir!”. Todos se precipitaram avião abaixo, em direção ao terminal de passageiros. Todos, menos o presidente que, tranqüilamente, desceu a escada, caminhou pela pista, entrou no saguão, chamou o chefe da segurança e, diante da audiência perplexa, disse: “o senhor cometeu dois erros. Primeiro, gritou na presença do presidente; segundo, aprenda uma coisa: presidente explode mas não corre”.
Essa pequena história vem a calhar para ajudar a refletir sobre a importância de manter a calma em meio à turbulência, sobretudo por aqueles que têm responsabilidade de comando.
É verdade que o próximo ano será um ano difícil, em termos de crescimento econômico. É verdade que, muito provavelmente, as condições desfavoráveis de mercado vão exigir mudanças também difíceis em muitas empresas. É verdade que as tensões vão aumentar. Mas é verdade, também, que (como foi exposto no Conjuntura & Tendências da semana passada), mesmo com o PIB em eventual queda, os impactos são diferentes para cada setor e, dentro deles, para cada empresa, o que significa que as oportunidades continuarão existindo e, em muitos casos, até se ampliarão.
Nesses momentos de perigo, quando se misturam de forma aguda os problemas e as oportunidades, ganha maior vulto o papel dos gerentes como condutores das mudanças e referência de como agir, independente do nível hierárquico que ocupam. Conceitualmente, tanto pode ser considerado gerente o Presidente da República quanto, por exemplo, um Encarregado de Serviços Gerais porque os dois têm em comum o fato de coordenarem equipes de trabalho, sejam elas compostas por ministros de estado ou por zeladores.
Por ocupar este lugar diferenciado de coordenação, o gerente está permanentemente na vitrine, sendo observado, em todos os seus movimentos, pelos coordenados, embora possa não parecer. Daí, revestir-se de grande importância referencial a sua forma de agir. Se age freqüentemente de modo temperamental, pouco equilibrado ou excessivamente emocional, instalará a intranqüilidade e terminará, com o tempo, fragmentando a lealdade e dissolvendo a solidariedade, ingredientes indispensáveis à formação do espírito das equipes vencedoras. Afinal, as pessoas mais sensatas e comprometidas (sem as quais nenhuma equipe chega, sequer, a constituir-se como tal) terminarão por evitar se expor, lavarão as mãos ou procurarão outros lugares para trabalhar.
Apavorar-se, sair correndo (real ou virtualmente), procurar culpados, perder a esportiva e outras coisas do gênero não só não resolvem como geram efeitos contrários aos pretendidos. Gerentes intranqüilos produzem equipes intranqüilas. Equipe intranqüilas diminuem sua capacidade de competir. Perda da capacidade competitiva em épocas de crise significa ameaça à sobrevivência. Donde se conclui que para sobreviver é preciso um mínimo indispensável de tranqüilidade. Para o gerente, o lema deve ser: “explodir” se preciso for, perder a calma, jamais.