O presidente Fernando Henrique Cardoso toma posse do seu segundo mandato, em condições completamente diferentes daquelas de quatro anos atrás, anunciando que não foi eleito para ser “o gerente da crise” mas para superá-la. A realidade, todavia, é que assume bastante fragilizado politicamente devido à delicada situação econômica em que o país mergulhou, depois que a “aposta” da equipe econômica (financiar a “estabilização” com capitais externos abundantes) foi “abalroada” de frente pela “descarrilamento” da Rússia, em agosto passado. Para que não fique, de fato, restrito apenas à gerência da crise, não pode abrir mão de ser um bom gerente do seu governo.
Aí, entretanto, a coisa fica complicada. A fragilidade política atrapalha, e muito. Basta observar a composição do novo ministério, feita para ajudar a “aprovar o ajuste fiscal no Congresso.” Com isso, o presidente ficou refém de indicações sobre as quais declara não ter controle, dizendo, textualmente, a respeito da substituição do ex-ministro das Minas e Energia Raimundo Brito, da cota pessoal do senador Antônio Carlos Magalhães: “teve uma conduta absolutamente exemplar” mas foi substituído “por circunstâncias que não são do meu controle”. O que dizer de um gerente que não tem controle sobre a formação de sua equipe?
O outro fato preocupante, em parte decorrente da necessidade de “composição”, é a quantidade de auxiliares diretos. Foram empossados no Palácio do Planalto, sexta-feira 01.01.99, trinta e quatro, entre ministros e secretários especiais. É muita gente para despachar direto com o presidente. Uma reunião com mais de trinta pessoas já é um seminário e não pode ser feita com regularidade semanal, o que é desejável em se tratando de colegiados gerenciais como é o caso do ministério. O que dizer de um gerente que tem uma equipe maior do que sua capacidade de coordenação?
“A Folha examinou o organograma de governo dos sete países mais ricos do mundo e de cinco ‘potências emergentes’ como o Brasil. Só um, o da Índia, tem 30 funções de primeiro escalão (a Argentina tem 8, os EUA, 14). Nenhum executivo se sai bem com tantos subordinados diretos. Jesus, que era Ele, teve só 12 ministros”.
Carlos Eduardo Lins da Silva, Folha de São Paulo, 26.12.98
Essa brincadeira do jornalista da Folha chama a atenção para um problema tão sério quanto pouco considerado. Infelizmente, o costume de compor equipes grandes e não cuidar adequadamente de sua coordenação é uma triste característica da cultura gerencial no país. No setor público, então, este traço chega a assumir contornos de calamidade. Quantos chefes do Poder Executivo não passam meses sem reunir a sua equipe para tratar da montagem e do acompanhamento da estratégia da gestão, preferindo tratar dos problemas com cada um dos componentes, em separado?
Um gerente que não se reúne com o conjunto da sua equipe regularmente para definir prioridades, acompanhar metas, identificar e tratar os problemas da gestão ou administrar os inevitáveis conflitos, não pode sequer dizer que tem uma equipe. Tem um amontoado de pessoas, provavelmente com dificuldades de funcionar em conjunto e excesso de individualismo.
A essa altura do campeonato, só nos resta torcer para que estratégia do presidente dê os resultados que ele espera e para que seu grande e retalhado ministério não seja o estorvo que tem amplas possibilidades de ser se não for adequadamente gerenciado. Dada a delicadeza da situação econômica, não temos mais margem para errar. A pilotagem do ajuste de que o país necessita requer determinação e destreza gerencial. Artigos, infelizmente, raros no primeiro mandato.