Cenários podem ser entendidos como projeções de futuros possíveis. Não têm a “obrigação” de acontecer e, se adequadamente esboçados, devem funcionar, do ponto de vista das empresas, por exemplo, como insumos para a formulação de alternativas sobre os rumos a serem tomados, caso as tendências projetadas se confirmem. Rigorosamente, pode-se dizer como Arie De Geus (ver C&T 188) “Não é possível saber, e não importa, qual será o futuro. A única pergunta relevante é: o que faremos se tal coisa acontecer?“.
Depois que o governo foi obrigado a fazer o câmbio flutuar e o real começou a caminhar pelo fio da navalha, o panorama econômico e político do país mudou, aumentando o grau de incerteza frente ao futuro. Daí, a necessidade de trabalhar, por precaução, com cenários alternativos sobre como a situação pode evoluir.
Dadas as condições atuais, o cenário mais provável, que pode ser chamado de “livre de maiores surpresas”, é o da Estabilização Estressada: renegociação do acordo com o FMI, arroxo fiscal, juros inicialmente ainda altos, recessão inicial alta (ficando, segundo as projeções otimistas, no patamar de -2,5% do PIB em 99), desemprego alto. Tudo isso para que, ao final de um tempo difícil de determinar, o câmbio possa se estabilizar, os juros possam cair, as exportações se ampliarem e a economia voltar a crescer. Existem, todavia, duas variáveis-chave nesse cenário: o câmbio e a inflação. O dólar precisa se estabilizar em patamares suportáveis e compatíveis com taxas de inflação controláveis. O governo pretende conseguir isso operando melhor (prova disso é a substituição de Francisco Lopes, um “formulador”, por Armínio Fraga, um “operador”, no comando do Banco Central). Entretando, se a inflação sair do controle, a coisa se complica e muito, do ponto de vista institucional.
O presidente Fernando Henrique foi reeleito para manter e estabilidade da moeda e se não conseguir fazê-lo (ou, pelo menos, parecer que perdeu o controle), perde automaticamente o apoio que recebeu. A última pesquisa Datafolha (realizada entre 03 e 04.02.99) é claríssima a esse respeito: pela primeira vez, desde que tomou posse em 95, a rejeição nacional do presidente superou sua aprovação (36% de ruim e péssimo contra 21% de bom ou ótimo). Desdobramento de um ambiente de perda de apoio popular: iniciar-se-ia a Sarneyzação do Governo, precedida ou seguida de uma tentativa de Volta à Estaca Zero. Conseqüências possíveis de uma deterioração aguda: descontrole do governo; perda de apoio da base parlamentar (PFL e PMDB abandonariam um presidente abandonado pelo povo, afinal não convém esquecer que 2000 é ano de eleições municipais); aprovação de uma emenda parlamentarista; eleição de uma primeiro ministro “forte.” No cenário atual, é Antônio Carlos Magalhães quem parece se oferecer para ser visto como esse parlamentar “forte.”
ACM tem-se colocado como alternativa ao enfraquecimento do presidente e é difícil pensar que seja por acaso. Fez isso na posse presidencial, quando roubou a cena com um discurso incisivo, fora do protocolo, em contraposição ao discurso “morno” do presidente, chegando a dizer algo do tipo “quem não tem coragem de enfrentar as adversidades não merece o dom da vida.” Repetiu na sua própria posse como presidente reeleito do Senado Federal dizendo alguma coisa como “o Congresso está fazendo a sua parte e não faltará nesta hora grave da nação.” Além, claro, de colocar-se como mediador das negociações entre os sindicalistas e os representantes da montadora nas demissões da Ford. Sinais claríssimos de que o poder não admite vácuo.
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