“A sorte favorece aqueles que são persistentes.”
James Collins em “Feitas para Durar.”
Os últimos desdobramentos da conjuntura econômica no país reforçam a tese de que só se conseguem resultados consistentes com trabalho árduo e persistência, sem esperança em soluções mágicas. Solução mágica era o real sobrevalorizado frente ao dólar para resolver todos os males da economia, da inflação à competitividade da indústria. Resultado: o país ficou cronicamente dependente de recursos externos para fechar suas contas e, quando a Rússia quebrou, o ministro Pedro Malan teve que passar noites em claro para viabilizar um acordo de emergência com o FMI. A partir daí, ficou evidente que sem arregaçar as mangas e trabalhar duro, não havia mágica que desse jeito no real. Desacostumado a isso, o governo ainda seguiu cometendo trapalhadas até que, parece, começa a acertar o passo.
As primeiras providências de Armínio Fraga à frente do Banco Central vão na direção do acerto. A cotação do dólar caiu para abaixo do patamar de R$ 2,00 e o mercado sinalizou favoravelmente. Mas não convém alimentar ilusões. A luta para restabelecer a confiança interna no governo, bem como a credibilidade externa, será árdua. Os próximos meses serão de “lascar o cano”. As reservas estão baixas (até a desvalorização cambial, o BC gastou mais de US$ 40 bilhões das reservas para manter a cotação do dólar, sem sucesso), as linhas de crédito internacionais estão praticamente paralisadas, muitas obrigações de empresas privadas estão se vencendo no exterior nos próximos meses (o que aumenta a procura do dólar no mercado interno) e a entrada de dólares decorrentes da reversão da balança comercial só deve se consolidar a partir de abril. Logo, o Banco Central, para impedir a explosão das cotações e, com ela, a volta da inflação crônica, vai ter que trabalhar muito, com muita competência e criatividade.
Ao que parece, todavia, esse desejo por soluções mágicas não é só um privilégio do governo federal. É mais arraigado na sociedade do que pode parecer à primeira vista. Mesmo onde a luta pela sobrevivência no mercado é feroz, como é o caso da empresa privada, é comum encontrar gerentes e dirigentes desejando soluções rápidas e, não raro, milagrosas, para problemas organizacionais complexos. Evidência disso é o sucesso que fazem alguns candidatos a “curandeiros” que prometem soluções fáceis para problemas difíceis, geralmente via livros de autoajuda e palestras-espetáculo (não raro, os dois juntos mais aparições regulares em programas de televisão).
Tanto em se tratando de economia quanto de gestão empresarial o que resolve é paciência, persistência e certeza de que os milagres estão cada vez mais raros. É preciso estar muito atento para não cair na tentação das soluções fáceis. Não dá para querer usar piloto automático porque a turbulência é grande. Vai ser necessário muita atenção e mãos firmes na direção porque as margens de manobra estão muito estreitas. Só tem direito de contar com a sorte quem demonstrar muita aplicação.
Desafio 21
Desafio 21 Leia no caderno Oportunidades, todo domingo no Jornal do Commercio, a coluna Desafio 21. O que há de mais atual sobre Gestão & Competitividade está lá. Uma produção conjunta da Rede Gestão e da JCR & Calado, com criação gráfica da Aporte. |