Sem (muito) medo de errar

“Os grandes atiradores sabem que se quiserem triplicar seu índice de sucesso têm que triplicar o de tiros errados.”

Harvey MacKey, escritor norte-americano, revista Exame, 11.03.98

Ninguém, em sã consciência, gosta de errar. As pessoas responsáveis esforçam-se para fazer certo as coisas. Os perfeccionistas abominam o erro. Tem sido a preocupação em acertar, em fazer as coisas corretamente que, ao longo do tempo, tem impulsionado o progresso, tanto do ponto de vista empresarial quanto econômico. Foi o insistente cuidado com a perfeição que, na época recente, a partir do Japão, desencadeou toda a filosofia da qualidade pelo mundo afora. Nos EUA, inclusive, chegou a ser desenvolvido, por Philip Crosby, o conceito de Zero Defeito.
Fazer Certo Desde a Primeira Vez“, transformou-se numa expressão que, na crista deste movimento, conquistou um merecido lugar de destaque nas preocupações daqueles responsáveis pela liderança da revolução da qualidade nas empresas. Entretanto, há um aspecto que, baixado um pouco o justo ímpeto inicial da qualidade total, merece ser considerado também como importante fonte de progresso: o valor criativo do erro na vida organizacional. Dos EUA, inclusive, já nos chega uma expressão alternativa, mais sintonizada com o princípio, inicialmente um pouco esquecido, das Melhorias Contínuas: “Fazer Melhor da Segunda Vez.”
O entendimento de que a evolução é uma série bem sucedida de erros foi consagrada pelo próprio Charles Darwin, ao formular a teoria da evolução das espécies. Já Tom Peters, com o seu modo original, embora exagerado, de tratar as questões organizacionais e de gerenciamento, provoca:

“A inovação acontece quando os produtos errados são usados pelas pessoas erradas, do jeito errado e na época errada. É essa a natureza dos grandes sucessos.”

Tom Peters, revista Amanhã, fevereiro 1998, copyrigth 1997, Wired Magazine Group

Do ponto de vista organizacional, a sabedoria está em não ampliar excessivamente a justa e necessária preocupação com o acerto, a ponto de travar a ação, barrar a ousadia e paralisar a criatividade. É aquela velha história: nem tanto ao mar nem tanto à terra. Nem o excesso de zelo nem a irresponsabilidade. Encontrar o espaço intermediário não é fácil mas ajuda se houver a preocupação de alargar o espaço para a tentativa, para a experiência, para a improvisação e, naturalmente, para o erro.
Em épocas de crise, o paradoxo aumenta. Ao mesmo tempo em que é preciso um cuidado obsessivo em não desperdiçar (em acertar, portanto) é fundamental criar espaço para o novo (aumentar a quantidade de “tiros” errados, portanto). O segredo está em definir, com realismo, a quantidade de “munição” destinada à tentativa. Depois, é aperfeiçoar a pontaria, sem (muito) medo do fracasso.

“Tente de novo. Fracasse de novo. Fracasse melhor.”

Samuel Beckett, dramaturgo irlandês, citado em “Sua Boa Estrela” 126, publicação da Mercedes Benz

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