O gerente aperreado

“O gerente está afogado em obrigações e, no entanto, não lhe é fácil delegar tarefas. O conseqüente excesso de trabalho o obriga a fazer muitas coisas rapidamente. Sua ação se caracteriza pela brevidade, fragmentação e comunicação oral.”

Henry Mintzberg em “The Manager’s Job: Folklore or Facts”, Harvard Business Review, jul/ago 1975

É absolutamente natural que uma pessoa sujeita a um regime de trabalho deste tipo, mude de humor, não só com muita freqüência como de uma hora para outra, sem aviso prévio. E é natural, também, que isso cause surpresas freqüentes e crie descontinuidades, dificuldades ou embaraços no relacionamento do gerente com os seus gerenciados. Essa situação, inclusive, já está consagrada no folclore da administração, existindo, até, umas plaquinhas feitas para colocar na mesa do gerente, onde se lê: Chefe Furioso, chefe isso, chefe aquilo…
É claro que, dependendo do estilo pessoal de cada gerente, do dia ou da intensidade do momento, as pressões ou imprevistos produzem reações diferentes. Uns podem ficar mais explosivos, outros mais dispersos ou, de modo inesperado, após uma boa notícia, surpreendentemente alegres, entusiasmados ou brincalhões.

“Os gerentes dispõem de quatro meios de informação: documentos, conversas telefônicas, reuniões (preparadas ou não) e observações (…) Os gerentes se inclinam decididamente pelos meios verbais de informação: conversas telefônicas e reuniões.”

Idem

Como os meios verbais produzem reações mais imediatas, basta um telefonema para reverter uma tendência de humor. Basta um comentário numa reunião de trabalho ou num despacho rotineiro com um gerenciado (que Mintzberg inclui, na citação acima, na categoria de reunião), num dia “daqueles”, para desencadear uma reação mau humorada ou uma “saia justa” desagradável, por mais habitualmente “educado” ou “polido” que seja o gerente.
Quem é que nunca ouviu ou disse algo do tipo: “Hoje, o homem (ou a mulher!) está aperreado (aflito, segundo o Aurélio)…”? Ou, “o homem hoje está virado…” ou “uma fera” ou “impossível” ou “com a moléstia…” ou “com a gota….” Todas, expressões que, embora algumas com acentos mais nordestinos, caracterizam uma espécie de senha capaz de desencadear precaução e cuidado para não aumentar o desconforto.
Enquanto “piloto de tormenta” (ver C&T 214), não há como o gerente ficar imune a essas pressões cotidianas e será, por mais pessoalmente controlado que seja, de uma forma ou de outra, inevitavelmente influenciado por elas. O que ele pode fazer, sim, é um esforço consciente e continuado de desdramatizar esses episódios, procurando tornar o mais natural possível, para ele e para os outros, as mudanças de humor.
Se, por um lado, não é justo que se exija do gerente, enquanto “o mundo está pegando fogo”, ter sempre uma postura magnânima e impassível, tranqüila e elegante, por outro, também, não é justo que os gerenciados sejam objeto de destemperos e grosserias que só vão contribuir para “colocar terra” nas relações de trabalho e dificultar o funcionamento da organização. Há que se procurar um meio termo que facilite a convivência, mesmo porque o dia a dia da gestão é feito de meios termos, embora a sobrevivência empresarial requeira, com freqüência, atos extremos de ousadia ou “freios de arrumação”. Não dá, todavia, para viver diariamente em meio a extremos. Não há nervos que agüentem, sejam eles gerenciais ou de gerenciados.

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