Um governo em crise permanente

Já no meio do seu quinto mês de mandato, o segundo governo FHC ainda não disse a que veio e mergulha em mais uma crise. Primeiro, a declaração de moratória do governador Itamar Franco, jogando gasolina na foqueira da desconfiança, depois a desvalorização atabalhoada da moeda e os mais negros cenários para a economia em 99. Quando começa a retomar a iniciativa política, a colher os frutos da renegociação do acordo com o FMI e da melhoria dos cenários econômicos, com a não confirmação das previsões catastróficas, desaba-lhe sobre a cabeça a CPI dos Bancos.
Hoje, a situação é quase surreal. Do ponto de vista econômico, contrariando todos os prognósticos, o dólar retornou ao patamar considerado razoável (entre R$ 1,60 a 1,70), a inflação não explodiu (há até previsões de 7% em 99) e a recessão projeta-se mais branda do que o previsto no próprio acordo com o FMI (hoje, já se trabalha com queda de 2% do PIB). Ao mesmo tempo, do ponto de vista político, os holofotes estão sobre a CPI dos Bancos e a atuação muito mal explicada do Banco Central no episódio da desvalorização.
A situação econômica, embora permaneça ainda muito delicada, já permitiria a iniciativa do governo no sentido da retomada do caminho do desenvolvimento de que o país tanto precisa (até a Reforma Tributária, a mais importante do ponto de vista empresarial, já parecia ter começado a caminhar…). Mas não, uma vez mais o governo se vê paralisado pelo desdobramento de fatos que ele mesmo produziu ou não soube contornar a tempo.
A desvalorização do real, em torno da qual gira a CPI dos Bancos, apesar de necessária, foi não só atrasadíssima, por conta da reeleição, como feita de uma forma tão atabalhoada que provocou (sem considerar a ajuda dada pelo Banco Central aos bancos Marka e FonteCindam, estimada em mais de US$ 1 bilhão) ganhos instantâneos, da ordem de R$ 10 bilhões, para duas dezenas de bancos que mudaram de posição (passaram de vendedores a compradores de dólares, às vésperas da mudança). Se somados aos cerca de US$ 40 bilhões das reservas cambiais gastos, de agosto ao início de janeiro, para manter a âncora cambial e ao valor dos títulos do governo federal indexados ao dólar, os custos da brincadeira chegam (segundo estimativa de Celso Pinto em sua coluna de 09.05.99) à casa dos US$ 100 bilhões (a revista CartaCapital, de 28.04.99, estima em US$ 140 bilhões “o custo do real”, desde 1994).
Pelo menos, a CPI está ajudando a jogar um pouco de luz sobre o lado escuro das relações entre autoridades monetárias e o mercado financeiro e é possível que a coisa passe a ser melhor regulamentada daqui para a frente. Enquanto isso, o pais fica a mercê das encenações políticas que chegam ao cúmulo de promover, na convenção do PFL, o lançamento, 41 meses antes da próxima eleição, da candidatura de Antônio Carlos Magalhães à Presidência da República. Tudo porque a popularidade do presidente está em queda livre e o governo imerso em mais uma crise da qual não se sabe com certeza quais os desdobramentos. Afinal, como já se disse, CPI é como guerra, você sabe como entra mas não sabe como sai. O governo precisa sair da crise e governar. O país inteiro espera por isso há mais de quatro anos.

A TGI Consultoria em Gestão e a Martorelli Advogados, junto com as Organizações Bernhoeft, estão promovendo dia 28.05.99 (sexta-feira), a partir das 14h, no Mar Hotel, Boa Viagem, Recife, o seminário Empresa Familiar – Soluções para Assegurar um Lugar no Futuro, com a participação de Renato Bernhoeft, especialista nacionalmente reconhecido. Informações e inscrições: TGI Consultoria em Gestão (fone: 427.1740, fax: 427.1670, e-mail: tgi@tgi.com.br).

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