O ano 2000 sempre foi considerado uma espécie de símbolo do fim dos tempos, de data limite da humanidade. É possível que, por isso, tenha ficado gravado no inconsciente das pessoas como um horizonte além do qual não se conseguia pensar direito, porque representaria o fim de uma era, coincidente com o fim do milênio (muito embora o novo milênio só inicie, mesmo, a zero hora do dia primeiro de janeiro de 2001).
Talvez esse fato ajude a explicar a sensação de dèja vu, de desencanto com as coisas, como se tudo já tivesse sido visto ou feito, que flagramos em muitas pessoas, seja em manifestações públicas pela imprensa, seja no dia a dia das empresas.
Essa coisa é tão séria que há alguns anos atrás, bastou um obscuro professor universitário norte-americano, de origem japonesa, chamado Francis Fukuyama, escrever uma artigo intitulado “O Fim da História” (depois transformado no livro “O Fim da História e o Último Homem”) para fazer um sucesso inusitado e tornar-se conferencista muito requisitado, inclusive por homens de negócio, no mundo inteiro.
Há até quem preveja, baseado nas profecias de Nostradamus, o fim do mundo para julho deste ano, segundo uma corrente, ou agosto, segundo outra…
Delírios à parte, é importante para quem tem responsabilidade pela produção de resultados nas organizações atentar para esse clima de descrença, certamente influenciado pela perspectiva de fim de milênio, e enfrentá-lo com perseverança. Uma coisa é certa: não se constróem organizações produtivas com pessoas descrentes.
E como fazer isso? Há várias formas de tentar, mas talvez a mais significativa delas seja uma de ordem “filosófica”: o incentivo à pesquisa, à curiosidade por coisas novas, por abordagens diferentes, pelo novo, pelo desconhecido. Uma cruzada contra a atitude passiva de que tudo já foi visto, já foi feito, já foi descoberto.
Pergunta: “O senhor descobriu e inventariou muita coisa. Ainda há espaço para a descoberta?” Resposta: “Mas é claro! Em todas as disciplinas há algo interessante a descobrir. Há muito trabalho a ser feito.”
Théodore Monod, 95 anos, zoólogo francês à Folha de S. Paulo, 13.05.97
Um sujeito com 95 anos tem até o direito de achar que já viu tudo, mas não acha. Diante de um tal exemplo, ninguém tem o direito de achar que não há mais nada a fazer. Ninguém deve ter medo ou preguiça de tentar caminhos diferentes, desconhecidos. Nem se pode contentar com respostas fáceis num mundo onde são feitas perguntas difíceis.
Todo poder, então, à curiosidade! Todo incentivo à pesquisa, ao olhar diferente! Só deste modo escaparemos do perigo de sucumbir à apatia. Só a curiosidade nos salvará do fim do mundo.