Seis por meia dúzia

Este é o sentimento que todos tiveram com o resultado da reforma ministerial realizada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso: muito suspense para uma mudança que deixa as coisas do mesmo jeito que estavam antes.
O próprio presidente aumentou a expectativa e deu tons meio dramáticos ao processo quando pediu para todos os ministros entregarem os seus cargos, exceto os da Defesa e da Fazenda. Deu a entender que poderia fazer uma reforma para valer, iniciando, de fato, o segundo mandato, atropelado em janeiro pela desvalorização do real. Mas a impressão que ficou no final foi a de que tratou-se apenas de um jogo de cena para tirar os ministros Clóvis Carvalho de dentro do Palácio do Planalto e Renan Calheiros da Justiça.
No frigir dos ovos, todavia, não se pode negar que, do ponto de vista operacional, o ministério que resultou da mexida é tecnicamente melhor que o anterior. Mas a questão principal não está aí, como também não está, por exemplo, nos valores individuais dos jogadores de um time de futebol. Tão importante quanto a capacidade de cada um dos integrantes é a competência gerencial do técnico na condução da equipe. Vale para o futebol, vale para o governo e vale para a gestão empresarial.

“… a reforma vale menos pelo que foi e mais pelo que dela fará (ou não) o próprio presidente.”

Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 17.07.99

Os resultados das últimas pesquisas mostram que a opinião pública já começa a transparecer sua impaciência com a mesmice do governo, descolando a avaliação do Plano Real da avaliação do presidente que atinge a sua pior marca desde que assumiu pela primeira vez. Sua avaliação equipara-se àquela obtida por José Sarney ao deixar o governo.
Vencida a batalha do controle da inflação (como parece ter acontecido) ficam mais evidentes as grandes mazelas do país. Elas precisam ser atacadas com mais firmeza e menos retórica, a começar pela retomada segura do desenvolvimento econômico, sem o qual a crítica situação social do país só fará se agravar. Prova, eloqüentemente disto é a escalada da violência e da criminalidade nos centros urbanos.
Na mesma semana em que o presidente estava às voltas com a sua reforma ministerial, a imprensa nacional deu destaque a dois relatórios de instituições internacionais respeitáveis classificando mal o Brasil em comparação com outros países. A ONU divulgou o seu Relatório do Desenvolvimento Humano de 1999, classificando o Brasil, que está entre os dez maiores PIB do mundo, em 79º lugar em Desenvolvimento Humano. O Fórum Econômico Mundial, com sede na Suíça, divulgou o seu Relatório de Competitividade Global deste ano classificando o Brasil na 51ª posição no ranking mundial, abaixo de países pobres como Venezuela, Egito, Vietnã, Ã?frica do Sul, El Salvador…
Fernando Henrique Cardoso é um intelectual de peso e sabe que será cobrado pela história se não fizer, nesses menos de três anos e meio de mandato que lhe restam, as mínimas mudanças de que o país precisa e para as quais foi investido no segundo mandato outorgado pela população. O segundo tempo já está correndo solto e foram feitas as substituições. Os olhos da torcida continuam voltados para o técnico.

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