Antônio Delfim Netto, 70 anos, deputado federal pelo PPB-SP, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento foi, desde o início do Plano Real, o mais contundente e sistemático crítico do que chamava “armadilha da estabilização” e se traduzia por: câmbio valorizado, juros astronômicos e exportações deprimidas que impediam o país de crescer a taxas de 6% ao ano para atender a demanda por empregos e combater o déficit público com o aumento “sadio” da arrecadação de impostos, não com a ampliação da já alta carga tributária. O registro de sua crítica vem sendo feita pelo Conjuntura & Tendências desde 1996 (ver números 68, 84 e 121).
Depois da flutuação do câmbio e da desvalorização do real frente ao dólar, todavia, Delfim mudou de opinião e tem estado na contramão (novamente) do pensamento econômico predominante. Neste momento de dúvidas sobre a capacidade do presidente da república de conseguir conciliar o combate à inflação com a necessária retomada do crescimento econômico, vale a pena considerar a nova argumentação em razão do crédito adquirido com o acerto das críticas feitas.
“Pode parecer paradoxal, mas, desde a desastrada operação que obrigou a liberação do mercado cambial permitindo a flutuação, há razões para maior otimismo com relação ao futuro da economia (…) Com algum tempo, paciência e um pouco de sorte, existe agora a possibilidade de restabelecer o equilíbrio interno e externo (…) Ontem não havia esperança. Hoje há.”
Delfim Netto, Folha de S. Paulo 31.03.99
No seu último artigo semanal na Folha de S. Paulo, Delfim, depois de afirmar que “o Brasil tem todas as condições para voltar ao crescimento sem que isso leve a um aumento da taxa de inflação“, enumera sete razões: (1) regime de câmbio flutuante; (2) expectativa de inflação da ordem de 8% em declínio; (3) relativo equilíbrio das contas públicas; (4) perspectivas de melhorias do sistema tributário; (5) alta probabilidade de aprovação de uma indispensável lei de responsabilidade fiscal; (6) possibilidade de uma modificação legal que dará maior liberdade de negociação ao mercado de trabalho; e (7) oportunidade de aumentar o crédito pela redução inteligente dos compulsórios. Adverte, todavia, que a condição principal para que a retomada do crescimento seja possível, sem inflação e sem desequilíbrio externo, é a expansão robusta das exportações. Finaliza o artigo reafirmando que “com o crescimento, todos os nossos problemas serão de mais fácil solução, do desemprego ao equilíbrio fiscal“.
No dia 14 de março em entrevista publicada na coluna dominical do jornalista Elio Gaspari, faz uma previsão sobre os rumos da economia em 99.
“… no segundo semestre, talvez a partir de agosto, sairemos do fundo do poço. A economia, depois de se contrair, começará a crescer. O desemprego, depois de aumentar, vai começar a diminuir. O caminho está certo.”
Delfim Netto, Elio Gaspari, 14.03.99
Diz também, na mesma entrevista, que “o presidente tem hoje 50% de chances de terminar o seu governo com crescimento razoável e inflação desprezível“. Tomara que Delfim acerte de novo! E que o presidente use bem as suas chances!