“O Brasil não é mais um país subdesenvolvido. O Brasil é um país injusto.”
Fernando Henrique Cardoso
Esta definição de FHC, feita quando ainda era candidato concorrendo pela primeira vez à Presidência da República, continua hoje tão atual e própria como era no momento em que foi formulada pela primeira vez.
O Brasil não é mais um país pobre porque está entre as dez maiores economias do mundo. Só para se ter um dado de comparação: 78% da população mundial vive em países com renda per capita inferior à brasileira. Todavia, é considerado pelas principais instituições internacionais que tratam do tema o país mais desigual do mundo. Segundo a revista Exame (06.10.99), os 10% mais ricos da população detêm 50% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres ganham menos do que o 1% mais rico.
Os números deste descalabro, com base no ano de 1997: o Brasil tem nada menos do que 54 milhões de pobres, 34% dos seus habitantes, o equivalente à população da Itália. Desses, 24 milhões vivendo abaixo da linha de indigência, o correspondente a uma Venezuela, e consumindo menos alimentos do que a Organização Mundial de Saúde considera a quantidade mínima para um ser humano viver. Além disso, no Brasil a média dos rendimentos dos 10% mais ricos da população é 30 vezes maior do que a dos 40% mais pobres, quando na Argentina, por exemplo, essa relação é de 10 vezes e a média mundial é de 5 vezes.
Resultado: toda essa insegurança que nos ameaça pessoalmente é uma certeza. A inclusão social de parcela tão significativa da população é, talvez, o principal fator crítico de sucesso para uma desenvolvida economia de mercado e uma democracia moderna, ambas indispensáveis ao Brasil. Sem isso, corremos o risco de regressão e de entrar no novo século como mais um país periférico e sem importância, que não soube vencer o desafio da pobreza e foi tragado por ela. Incluir, por intermédio de uma melhor distribuição de renda, pelos menos 40 milhões de pessoas no mercado de consumo, significa um impacto mais positivo para nossa economia do que incorporar mais países ao Mercosul.
Certamente esta é uma obra de vários anos que envolve a vontade da sociedade e o empenho do setor público mas que não pode prescindir da colaboração ativa da empresa privada. O estado sozinho não terá condições de enfrentar este desafio. É a empresa privada que encarna a parte viva e dinâmica da economia moderna e competitiva, com um papel decisivo a desempenhar nesta questão.
Diante da magnitude do problema, no mundo todo e no Brasil em particular, cada dia mais, agir com responsabilidade social está se tornando um diferencial competitivo de peso para as empresas. Uma atitude ética, socialmente responsável e comprometida com o bem estar tem funcionado como crescente facilitador de negócios e como efetiva ação de marketing social. As empresas que não estiverem engajadas neste esforço e não forem reconhecidas pelo elevado padrão ético de suas condutas econômicas e sociais terão sérias dificuldades de sobrevivência numa sociedade cada vez mais exigente. Ou seja, para ser competitivo não basta mais ter bons produtos, é preciso ter bons produtos e responsabilidade social.
Pela importância do tema, o Conjuntura & Tendências voltará a tratá-lo em próximos números.