“Os negócios vão mudar mais nos próximos dez anos do que mudaram nos últimos cinqüenta.”
Bill Gates, no seu último livro “A Empresa na Velocidade do Pensamento Com Um Sistema Nervoso Digital”, Companhia da Letras, São Paulo, 1999
Do alto de sua autoridade de homem de negócios mais bem sucedido do mundo (se a medida for a quantidade de dinheiro ganho), Bill Gates materializou, ao lançar seu último livro, o sentimento de urgência da nossa época na expressão: “na velocidade do pensamento“. O livro, por sinal, é muito interessante e merece ser lido por todos aqueles que estão preocupados com o futuro de seus negócios ou de suas carreiras. Tem apenas um inconveniente que está se tornando comum aos livros de personalidades que transitam no campo da chamada administração de empresas (empresários, consultores, gurus etc.): o essencial do que é dito poderia ser colocado em um terço das páginas utilizadas. Há muita repetição desnecessária de conceitos e exemplos redundantes. Dá até a impressão de que para um livro ser respeitado ele tem que ser grosso ou de que essas personalidades, por não terem tempo de escrever, contratam redatores que saem fazendo colagens de textos anteriores, palestras e entrevistas e terminam com dificuldade de cortar o supérfluo. Talvez não se dêem conta de que ajuda a atuar na velocidade do pensamento a leitura de livros mais objetivos…
O conceito inicial, todavia, é muito feliz e sempre oportuno de lembrar, embora não seja original: na era da Internet quem não for ágil o suficiente para promover mudanças necessárias a tempo e agir no mercado com a rapidez requerida (quem não estiver apto para atuar na velocidade do pensamento, portanto) pode por em sério risco sua sobrevivência. A originalidade fica por conta do conceito complementar: o sistema nervoso digital. Ao longo do livro Bill Gates avança, tentando puxar, claro, a brasa para a sua sardinha, na explicação de como, nessa nova era, será crucial para as empresas a integração de seus sistemas de informação e processos numa infra-estrutura comum que libere o fluxo das informações e permita que os negócios dêem saltos em eficiência e lucros. Vale a pena conferir.
Mas uma coisa preocupa. A grande contribuição do termo na velocidade do pensamento, como síntese das necessidades de uma época, fica comprometida quando o conceito se transforma numa receita para todo tipo de situação. Afinal, é imperativo evitar o extremo oposto ao da falta de agilidade: o ativismo inconseqüente do tipo rápido e mal feito, só para fazer ligeiro, só para estar sintonizado com a “urgência.” É verdade que para apagar um foco de incêndio que progride rápido, ninguém pode parar para refletir: tem que pegar o extintor ou o balde d’água e partir para cima, mais rápido, até, que o pensamento. Agora, tomar uma decisão estratégica de afogadilho, sem a indispensável reflexão individual e/ou coletiva que ela requer, por impaciência ou pressa inconseqüente, pode ser mais danoso que muitos incêndios juntos.
Uma sabedoria gerencial relevante, em épocas de mudanças tão profundas e velozes como a que vivemos e vamos viver nos próximos anos, é saber distinguir entre o que é importante e, portanto, carente de reflexão e de amadurecimento das decisões pertinentes e o que é urgente e, portanto, carente de decisões rápidas (consultar a respeito o Conjuntura & Tendências 139). Trocar as bolas leva a prejuízos que, na era da Internet, podem ser bastante amplificados como mostra a grande quantidade de lixo digital que é produzido diariamente.