Em 1995, Nicholas Negroponte, fundador e diretor do Media Lab no lendário Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston, EUA, publicou um livro fundamental para todas as pessoas que pretendem compreender a nova realidade provocada pela explosão da Internet: “Vida Digital” (Companhia das Letras). Nele, defende a tese de que o que está na base da revolução digital é a transformação dos “átomos” em “bits”. Se, simplificando o conceito para facilitar o argumento, o átomo pode ser considerado a menor unidade da matéria, o bit pode ser considerado a menor unidade da informação digital. Por meio de bits, a informação pode viajar à velocidade da luz e é isso, aliado à tecnologia da telecomunicação, em última análise, que torna possível a existência da Internet.
Quando uma pessoa, em vez de ir a uma livraria, compra um livro pela Internet, ela está substituindo um transporte de átomos (seu deslocamento físico de ida e vinda) por um transporte de bits (informação trafegando à velocidade da luz). É essa realidade que, daqui para a frente, vai provocar transformações profundas nos padrões de vida e consumo, impactando direta ou indiretamente todas as forma de gerir e fazer negócios, a ponto de provocar reformulações radicais e, mesmo, rápido desaparecimento de uma quantidade elevada de empresas que não conseguirem se adaptar aos novos padrões.
Até aí, tudo bem. Não há quem, em sã consciência e de posse de um mínimo indispensável de informações sobre o que pode acontecer no futuro, possa discordar dessas perspectivas. Agora, daí para se justificar essa histeria que está acontecendo em torno do que se convencionou chamar de “nova economia” vai uma distância muito grande. A julgar pelo volume do que se publica na imprensa, seja em conteúdo editorial, seja em publicidade, o velho mundo (palco da “velha economia”), que conhecemos desde criancinha, está com seus dias irremediavelmente contados e vai se acabar daqui a pouco, soterrado pela lava incandescente da economia digital com suas empresas sem ativos físicos, totalmente virtuais.
A impressão que dá, após um mínimo de reflexão, é que, pelo menos no Brasil, o pessoal passou batido na leitura dos sinais da nova realidade que se desenha já há alguns anos e, agora, quer tirar o atraso fazendo esse alarido todo para compensar. Resultado: quando for ficando evidente que a questão é bem mais complexa do que faz crer o sensacionalismo das matérias publicadas e quando as encomendas começarem a atrasar por problemas de distribuição ou muitas das novas empresas de crescimento explosivo começarem a fechar por inconsistência de seus negócios, vai haver um desencanto com essa “história de Internet” que só fará arrefecer a prontidão para as mudanças que inevitavelmente virão.
Esquecem os analistas apressados que nem tudo é informação. Grande parte da realidade humana tem uma intransformável concretude que permite afirmar: a vida é analógica e assim vai continuar sendo. Ninguém come bits, embora possa ganhar a vida com eles, para comprar comida. A “velha economia” produtora de bens analógicos continuará existindo.
Vamos com calma pessoal. Todo esse alarde não deve nos desviar da questão mais relevante que é identificar o que será digitalizado dessa “velha economia” e como se preparar para competir num mundo onde a Internet é um fato irreversível que veio para ficar.