Segunda-feira, 03.04.2000, a Microsoft, empresa mais valorizada do mundo, foi considerada culpada, em primeira instância pela justiça norte-americana, de “manter poder de monopólio por meios anticompetitivos e tentar monopolizar o mercado de programas para navegação na Internet“. A pena pelo delito cometido será definida dentro do prazo máximo de 60 dias.
Foi o primeiro desfecho de um processo movido pelo Departamento de Justiça dos EUA e 19 estados da federação norte-americana contra a empresa. Motivo: a guerra travada pela Microsoft contra a Netscape que resultou na incorporação do navegador Explorer ao sistema operacional Windows (presente em cerca de 90% dos computadores pessoais) e a quase aniquilação da concorrente que terminou vendida à America On Line (AOL). Detalhe curioso: a lei na qual foi baseada a sentença (Lei Antitruste Sherman) é de 1890 e é a mesma que foi usada para condenar a gigante Standard Oil, do magnata John Rockefeller, em 1911, a dividir-se em 34 companhias de petróleo e para obrigar a AT&T, a enorme empresa de telefonia, a dividir-se, no ano de 1984, em sete empresas regionais, as chamadas “baby bells.” Uma das alternativas especuladas para a pena da Microsoft é, justamente, dividi-la em três empresas: uma para cuidar do Windows; outra para os aplicativos tipo o processador de textos Word e a planilha Excel; e a outra para os softwares para Internet, como é o caso do Explorer“.
Logo após a divulgação da decisão do juiz, houve um princípio de pânico nas bolsas de valores e o índice Nasdaq, que mede a cotação das ações das empresas de alta tecnologia (microinfomática, biotecnologia, Internet), teve a maior queda da sua história (-7.62% no dia da decisão). Com isso, registrou-se uma perda de US$ 350 bilhões em um único dia. Como comparou a revista Veja, o Nasdaq perdeu uma Argentina, a Microsoft teve a desvalorização de mais de um Chile (US$ 81 bilhões) e Bill Gates, maior acionista da empresa, perdeu algo equivalente a um Paraguai (US$ 11,5 bilhões).
A simples menção desses números deixa evidente o tom surrealista do quadro pintado pela chamada “nova economia”: uma única empresa, que não produz, como se diz, nem “um parafuso”, só bits, chegou a valer, a preços de mercado acionário, quase tanto quanto tudo o que é produzido durante todo um ano por um país do tamanho do Brasil (ver Conjuntura & Tendências 232). É de deixar confusa a cabeça de qualquer um.
E o melhor de tudo (ou pior?) é que essa conversa, como diz o próprio Bill Gates num comercial da Microsoft que entrou no ar nos EUA, sábado 08.04.2000, está apenas começando. “O melhor ainda está por vir“, diz o homem de marketing do século, referindo-se à decisão da Microsoft de continuar inovando. Sem dúvidas, a briga ainda promete render muito. O próprio Gates já declarou que a empresa recorrerá da decisão do juiz, seja ela qual for.
O importante a considerar é que esta não é apenas uma briga interessante de ser acompanhada. Trata-se da disputa pelo estabelecimento do padrão a ser seguido na Internet e, portanto, do futuro dos negócios nesse segmento e nos demais, considerando o quanto serão afetados por ele. Vale a pena acompanhar atentamente, lembrando, ao mesmo tempo, que é também uma briga atual de um conflito interminável no mundo dos negócios: a relação entre concorrentes e a voracidade dos mais bem sucedidos. Por mais que se fale na importância da diversidade, parece que o sonho da dominação do mercado (sendo o “monopólio” seu símbolo máximo) não cessa de ameaçar, tornando-se um pesadelo. O C&T voltará, brevemente, a tratar desse tema.