Passada a semana da pátria, vale mais uma reflexão sobre a questão que tem estado na ordem do dia de quem, por dever de ofício ou não, se preocupa com o futuro dos negócios: a retomada do crescimento econômico é mesmo para valer ou não?
As respostas que têm sido dadas a essa pergunta são as mais variadas possíveis. Vão desde o otimismo mais ou menos exagerado ao pessimismo severo quanto às condições objetivas do crescimento sustentado. Edmar Bacha, um economista que não pode ser considerado nem otimista nem, muito menos exagerado, chegou a afirmar que poucas vezes em toda a história republicana o país contou com condições macroeconômicas tão favoráveis ao crescimento sustentado.
A verdade é que desde a bem sucedida desvalorização do real em janeiro/99 e do ajuste fiscal que se seguiu, a economia brasileiro iniciou o que já se convencionou chamar de “círculo virtuoso.” O que pode atrapalhar essa retomada? Externamente, duas ameaças maiores: a subida exagerada dos juros norte-americanos e a escalada internacional dos preços do petróleo.
Quanto aos fatores internos, vale a pena destacar as observações feitas pelo economista Maurício Mesquita Moreira (ex-BNDES e atualmente no Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID, em Washington), no jornal Valor Econômico de 04.09.2000. Para ele, o Brasil dispõe hoje de três condições para voltar a crescer no curto prazo: (1) economia aberta; (2) inflação sob controle; e (3) taxa de câmbio realista. Todavia, para crescer rapidamente e de forma continuada o país padece de três constrangimentos: (1) baixa qualidade da mão de obra; (2) escassez de financiamentos; e (3) incertezas quanto ao controle das contas públicas nos próximos governos. E alerta que, além do financiamento à exportação, a prioridade deve ser a educação porque ela seria uma restrição mais séria ao crescimento do que o próprio balanço de pagamentos. Nesse aspecto, o argumento se assemelha muito a uma antiga posição do ex-ministro Mário Henrique Simonsen, para quem a educação se colocava como condicionante básico do desenvolvimento.
“Não basta apenas combater a inflação e abrir a economia. Para desenvolver-se, o Brasil precisa melhorar o ensino.”
Mário Henrique Simonsen, revista Exame, 17.10.90
Isso porque, como bem destaca Maurício Moreira, o crescimento a taxas elevadas por tempo longo (como o país precisa para incorporar o massa de trabalhadores que entra todos os anos no mercado e ainda dar conta do contingente dos já desempregados) depende substancialmente do aumento contínuo da produtividade, fator essencial na redução dos custos do crescimento. Para continuar ganhando produtividade (e, portanto, crescer com consistência) as empresas precisam inovar, melhorar a gerência e dispor de tecnologias avançadas. E isso só se faz com capital humano, educado e treinado.
O governo federal se orgulha de ter matriculado 97% das crianças em idade escolar (embora a repetência na primeira série ainda esteja em alarmantes 40%) e de estar avançando na avaliação do ensino universitário (embora ainda esteja muito aquém do necessário). Todavia, além dos indispensáveis avanços públicos, é também imperativo que as empresas cumpram sua parte na criação de condições para o desenvolvimento por intermédio da melhoria da educação: instalar um processo continuado de capacitação técnica, gerencial e, particularmente, uma outra forma de capacitação indelegável, que é a de desenvolver competências com a sua própria “cara”, ou seja, um estilo que dê identidade e diferencial, favorecendo a visibilidade da marca da empresa.