Complexo de inferioridade

“O brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: – não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima.”

Nelson Rodrigues, jornalista e dramaturgo brasileiro, “Flor de Obsessão – As 1000 Melhores Frases de Nelson Rodrigues”, Companhia das Letras, 1997, São Paulo

A propósito da mais recente viagem do presidente Fernando Henrique Cardoso, semana passada à Alemanha, ainda sob o impacto do mau desempenho do país nas Olimpíadas de Sidney, vale uma reflexão sobre a dificuldade que temos de acreditar, de verdade, na importância que o Brasil tem no mundo. Os sentimentos são sempre extremados: se ganhamos uma competição esportiva importante (uma Copa do Mundo, por exemplo), explode-se em ufanismo mas, no dia-a-dia, predomina a galhofa. O repórter e colunista da Folha de S. Paulo, Clóvis Rossi, que acompanhou a viagem presidencial à Alemanha, tratou do assunto de forma tão precisa que vale a pena reproduzir:

“O brasileiro, com uma ou outra exceção tende a desvalorizar o papel que o país exerce no mundo. (…) O Brasil tem, sim, sua importância no jogo internacional (…) pelo tamanho do seu território, de sua população e de sua economia, quesitos todos em que o Brasil aparece nos primeiros lugares do mundo.
Só não tem um papel diretamente proporcional às suas características porque suas mazelas, especialmente sociais, também figuram no topo do mundo.
A contribuição do presidente para um papel internacional mais saliente deu-se há seis anos, quando do lançamento do Plano Real. Até então, o diálogo com o mundo desenvolvido era de surdos, porque europeus e norte-americanos são absolutamente incapazes de entender um país com inflação de dois dígitos mensais, de três e até quatro dígitos anuais.”

Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 06.10.2000

Quinta população, quinto território, décima economia e pior distribuição de renda do mundo. Esse é o quadro contraditório ao qual Clóvis Rossi se refere mas que, por si só, não justifica aquilo a que o próprio Nelson Rodrigues, sempre um observador tão ferino da alma nacional, chegou a chamar de “complexo de vira-latas“. Por que esse sentimento que, não raro, além de aplicar-se ao país, se aplica também aos estados e às cidades onde vivemos?
Alternar entre o “complexo de vira-latas” e o ufanismo das vitórias pontuais pode estar relacionado a uma outra prática freqüente no nosso cotidiano: a caça aos culpados. Na análise dos problemas que nos afligem, muitas vezes, não nos vemos responsáveis (empresários, intelectuais, políticos, profissionais diversos). São os outros, os culpados: as “elites”, os “governantes”, os “poderosos”, os “maus empresários”, os “outros políticos inconseqüentes.”.. a relação não tem fim. Ter auto-estima é respeitar-se, dar-se valor, exercer o poder que lhe cabe, assumir os direitos que tem, apostar na própria capacidade e, inevitavelmente, ter autocrítica para assumir as falhas, contradições, omissões e conseqüências. Será um preço tão alto que chegue a ser mais cômodo exercitar o complexo de inferioridade? Ou será que já não está na hora de começar a trocar os valores? (Pela importância do tema, o C&T voltará a tratar do assunto em outras oportunidades).

Planejamento Estratégico

O INTG (Instituto de Tecnologia em Gestão) está promovendo o workshop Planejamento Estratégico – Uma Abordagem para Aplicação Imediata. Será realizado em quatro módulos de quatro horas de duração e destina-se aos gerentes e executivos que pretendam atualizar-se sobre o que há de mais atual sobre o tema e inteirar-se de uma abordagem prática de formulação de estratégias para aplicação às suas empresas, ainda neste final de ano ou logo no início do próximo. O workshop terá a coordenação do consultor em estratégia empresarial Francisco Carneiro da Cunha e contará com a participação especial da consultora Teresa Ribeiro e do especialista em planejamento José Ailton de Lima. As vagas são limitadas e as informações podem ser obtidas pelo fone (81) 427 45 13 ou pelo e-mail intg@intg.org.br.

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