A economia brasileira ainda é muito dependente de capitais externos para o fechamento do seu balanço anual de pagamentos (ver número 302 no site www.gestaohoje.com.br). Só em 2000 foram necessários U$ 25 bilhões de recursos novos para dar conta da diferença entre a entrada e a saída de divisas.
Esse é um dinheiro muito dependente da credibilidade do Brasil no exterior e do ânimo dos investidores nos seus países de origem. Por isso, garantida a estabilidade interna, pelo menos três fatores externos podem afetar esse ânimo em 2001:
Preço do Petróleo: chegou, em setembro a atingir cotação mais alta desde a Guerra do Golfo (quase US$ 38 o barril). Se baixar, como previsto em 2001, para um patamar inferior a US$ 25 não oferece perigo.
Crescimento da Economia dos EUA: no auge do “boom” da chamada “nova economia” a economia norte-americana chegou a crescer a taxas insustentáveis que eqüivaliam a um Brasil por ano (5,6% de um PIB de US$ 10 trilhões). Com medo da inflação de demanda, o Fed aumentou os juros internos e, hoje, há o risco de uma queda brusca do crescimento que afetaria toda a economia mundial. Se ficar em torno de 3% ao ano não deve oferecer perigo.
Crise da Argentina: depois de 10 anos de câmbio constitucionalmente fixo, o ajuste estava sendo feito via recessão a um custo social muito alto. O FMI veio em socorro e amarrou um pacote de ajuda de US$ 40 bilhões. Se for suficiente para reverter o quadro recessivo e segurar o presidente de la Rúa no cargo, não deve oferecer perigo, pelo menos em 2001.
Com um cenário externo livre de surpresas e mantida a situação fiscal interna sob controle, as perspectivas da economia brasileira para 2001 são melhores do que o desempenho verificado em 2000:
1. Inflação (-)
Deve ficar na casa dos 4% (medida pelo índice IPCA), dentro da meta de controle estabelecida pelo Banco Central.
2. Juros (-)
Devem ter trajetória descendente durante o ano e o índice básico real (a taxa Selic, administrada pelo Banco Central, descontada da inflação) deve ficar no patamar de um dígito (menos de 10% ao ano).
3. Câmbio (=)
Pelo regime de flutuação, hoje adotado no país, o valor do dólar comercial oscilará durante o ano de acordo com a oferta e a demanda mas, no final, sua variação ponta a ponta deve acompanhar a inflação.
4. Crescimento (+)
O crescimento do PIB deve ser maior do que o verificado em 2000 e situar-se em torno de 4,5%.
Se esse cenário para 2001 se confirmar, pela primeira vez em 50 anos o crescimento da economia será maior do que o crescimento da inflação. E, o mais importante, terá sido dado mais um passo na direção de consolidar o crescimento sustentado (6% ou 7% ao ano) e a mudança de patamar de que tanto a nossa economia precisa, conforme alerta Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central (Folha de S.Paulo, 23.12.2000):
“O que muda o patamar de um país é o crescimento sustentado por dez anos seguidos. Na América Latina, só o Chile conseguiu isso.”
Carlos Langoni, economista, FGV.