Na semana que passou, uma notícia econômica causou surpresa: o crescimento da economia brasileira em 2000. O IBGE divulgou o número surpreendente: aumento de 4,2% do PIB, fazendo-o chegar à cifra de R$ 1 trilhão.
A surpresa se deve ao fato de que mesmo as previsões mais otimistas não chegavam a 4%. O fator que mais contribuiu para atingir essa marca foi o crescimento industrial, com 4,8%. Com esse resultado, reforçam-se as previsões de crescimento econômico para 2001 na faixa dos 4,5%. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) já começa a falar em 4,6% e a empresa de pesquisa Simonsen Associados faz estimativa de 4,78%.
Dos três fatores restritivos externos mais importantes, presentes no final do ano passado, para a materialização dessas previsões (Crise da Argentina, Preço do Petróleo e Economia dos EUA), o que mais exige atenção atualmente é o ritmo de desaceleração da economia norte-americana.
De fato, a Argentina parece ter encaminhado seu problema com o FMI e, pelo menos até o final do ano, não deve ser fonte de maiores preocupações no que diz respeito ao contágio da economia brasileira. O preço do petróleo, desde os picos especulativos de outubro do ano passado, entrou em queda no mercado internacional e deve chegar ao patamar de equilíbrio, na faixa dos US$ 26 o barril. A não ser que a crise no Oriente Médio se agrave, após os resultados da eleição em Israel e depois do recente bombardeio do Iraque feito pelos EUA, o cenário de equilíbrio dos preços deve prevalecer.
O mesmo não se pode dizer da economia norte-americana, em franco processo de desaquecimento. Para um crescimento total de 5% em 2000, verificou-se no último trimestre um crescimento de apenas 1,4% (taxa anualizada), a menor em cinco anos. Além disso, a inflação subiu em janeiro (o índice de preços ao produtor teve a sua maior alta em 10 anos).
Desaquecimento com inflação é uma situação no mínimo contraditória para a política monetária levada a efeito pelo Fed (Federal Reserve) e seu temido presidente Alan Greenspan. Depois de promover uma elevação gradativa da taxa básica de juros (que chegaram a 6,5%), justamente para frear a economia e afastar o risco de inflação, o Fed, diante do temor de desaceleração acentuada, promoveu em janeiro dois cortes de meio ponto, levando a taxa para 5,5% ao ano. Até o anúncio do aumento da inflação, a disposição manifesta por Greenspan era continuar a cortar os juros. Agora, não se sabe.
Dizem os analistas que essa queda dos indicadores de crescimento da economia norte-americana deve perdurar por todo o primeiro semestre. No segundo semestre, a tendência seria revertida e a economia voltaria a crescer a taxas confortáveis (3% ao ano). Seria uma desaceleração seguida de aceleração.
Esse cenário, tido hoje como mais provável, não seria mal para a economia brasileira pois amenizaria o “efeito aspirador” de capitais provocado pelo crescimento vigoroso da economia norte-americana. Segundo o economista Miguel Sebastián Gascón, do Banco Bilbao Viscaya Argentina (no jornal Valor Econômico de 16.02.2001), de 1990 a 1999 as entradas líquidas de recursos nos EUA subiram de US$ 100 bilhões para US$ 400 bilhões por ano, enquanto, no mesmo período, os fluxos de recursos financeiros para os países emergentes despencaram de US$ 200 bilhões para US$ 50 bilhões. Segundo ele, com a redução do crescimento norte-americano, pelo menos mais US$ 20 bilhões serão destinados à América Latina.
Portanto, até o momento, apesar dos problemas externos, permanecem favoráveis as perspectivas de crescimento da economia brasileira em 2001.