Este número do Gestão Hoje estava programado para dar prosseguimento ao tema do número anterior (A Vez da Mulher no Mercado Brasileiro). Os fatos ocorridos na semana passada, todavia, com repercussões sobre a economia brasileira, impuseram a mudança de foco. De fato, é possível que desde o episódio da desvalorização do câmbio em janeiro/99, não tenha havido uma semana em que se concentrassem tantos fatos importantes.
Para começo de conversa, na terça 20 o país é surpreendido com o afundamento espetacular da plataforma P-36, de US$ 500 milhões, a maior do mundo, responsável sozinha pela produção de 6% do petróleo brasileiro. A perda de produção somada à necessidade de importação compensatória de óleo pode levar a um impacto na já deficitária balança comercial brasileira da ordem de US$ 1 bilhão.
Não deu nem tempo de se refazer do susto e as notícias dão conta do agravamento da crise na Argentina e, em meio a boatos da renúncia do presidente Fernando de la Rúa, cai o ministro da economia López Murphy, duas semanas apenas depois de empossado. Assume Domingos Cavallo com a difícil tarefa de desatar o nó da conversibilidade, dado por ele próprio 10 anos atrás. Todos temem uma desvalorização descontrolada do peso.
Enquanto isso, nem mesmo a notícia da queda de meio ponto percentual dos juros básicos norte-americanos foi capaz de conter a oscilação das bolsas de valores nem, muito menos, a escalada da cotação do dólar no mercado brasileiro.
Mas a grande elevação da temperatura do mercado financeiro se deu com a decisão do BC de aumentar em meio ponto percentual a taxa Selic (juros básicos), que passou de 15,25% para 15,75%, revertendo uma trajetória de queda que vinha desde março/99 (quando a taxa estava em 45% ao ano).
Com o nervosismo provocado pela reversão das expectativas, o dólar atinge o seu ponto mais alto desde o lançamento do real. Na sexta-feira 23, o dólar comercial fechou a semana vendido a R$ 2,174, acumulando variação de 25,7% no ano e 6,26% apenas em março.
Um fato importante a destacar é que toda essa movimentação no mercado financeiro se dá em meio a uma batalha política pela “moralidade” pública, com a ameaça de criação de uma CPI para apurar a corrupção no governo. Na verdade, tudo um grande jogo de cena para encobrir uma briga por poder que envolve a disputa pela sucessão do presidente da República.
Todos esse fatos contribuem para lançar dúvidas sobre as expectativas positivas em relação à economia do país que se encontra em pleno processo de crescimento.
Há uma espécie de consenso entre os economistas sobre a questão. Todos, de uma forma ou de outra, entendem que os fatos recentes ainda não são suficientes para consolidar a reversão das expectativas. O entendimento majoritário é de que a atitude do BC, elevando os juros, foi uma sinalização ao mercado de que está atento ao cumprimento das metas inflacionárias e não vai permitir que a desvalorização cambial se transmita para os preços.
Mesmo que a elevação dos juros não se reverta, o impacto dessa atitude sobre a economia só se fará sentir no segundo semestre e afetará pouco o crescimento projetado para este ano. Há quem estime que a economia já está crescendo a taxas anualizadas de 5% e que uma diminuição do ritmo não impedirá de termos um crescimento em 2001 na casa dos 4%.
Vamos torcer para que a reversão seja temporária e que a trajetória da economia não venha, mais uma vez, ser afetada pela política de stop and go que tanto mal nos vem fazendo há décadas. Não temos outra opção senão crescer.